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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Encaixes



Afinal somos perfeitos. O inacabado acha-se quando não descobrimos que há uma forma certa para os nossos espaços, para as nossas covas redondas que esperam ser completadas nas outras formas cheias que se encaixam na medida exacta.


Não adianta buscá-la ou recusá-la. São ímans que se atraiem até se colarem e fundirem ou repelem-se pelo desacerto da procura obssessiva na experimentação de saber se serve.


Quando serve, quando veste, quando se molda ligam-se, ganham raízes, perde-se o sinal da emenda, uma costura perfeita invisivel aos olhos dos outros. Só os próprios o sabem.


É como nascer um novo ramo numa árvore: parece que sempre lá esteve, sempre fez parte dum todo, uno, forte, seiva que se alimenta de seiva.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Crónicas do Tejo (XI)



Chuto a noite que ainda agasalha nos ruídos húmidos que empapam vultos. Espera-se o raiar incendiado a meio da água temperada a estradas feitas no memorizar de tanto ir e vir.


Tenho uma corda invisível que não me deixa perder o meu lado, o meu norte no Sul, a vontade de saber de onde sou, onde pertenço, a quem me prometi nessas escarpas verdes abruptas de um rei de cimento que parece ter voltado a intenção da guarda nas palmas que alisam o Tejo.


As minhas estão calejadas de tanto me segurar no regresso à margem que me engole.


Mais que um lado, uma caverna, uma gruta secreta que luxuriantemente reflecte as imagens do outro mundo. A culpa é do Rio, mania de ser espelho, mas na verdade só dá o que ele quer.


(in Crónicas do Tejo, C.G.-25/01/2008)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Contos Curtos Quase Escuros - O Turco


- E esse quem é? - mastigando a carne dos rojões, bochechas de um lado e de outro, um fio de gordura abrilhantando as comissuras até ao queixo, olhar não muito atento, concentração total no degustar. Levou o copo aos beiços e enquanto o vazava olhava o tecto, um quase agradecimento ao criador por tão bela iguaría. Bateu o fundo do copo com força na mesa e voltou ao prato.

- Encontrei-o no meio de umas coisas velhas, lá para o sotão. Achei que dava pinta aqui ao tasco, não achas? Parece que era turco e até já me disseram que se finou aqui, aqui mesmo (e batía o indicador no tampo da mesa) e olha, tal como tu estás agora, assim ele bateu as botas! - arqueava os sobrolhos e abría muito os olhos para que a história se tornasse mais credível.

- Que conversa é essa? Também comía rojões? Não me agoires! Isto está a saber-me pela vida e ainda tenho muita estrada para fazer! Querem lá ver?! Deixa-me comer descansado e ao turco deixa lá, já se foi, já se foi! Onde está não come disto!!! - agitava a mão grande e sapuda como uma onda a ir-se. Voltou a encher a boca dos nacos, deixava os bocados deslizarem goela abaixo depois de lhes sorver todo o suco condimentado.

- Não é isso, homem! Parece que o turco na gula de encher a boca engasgou-se e foi desta para melhor! E até dizem que deitou uma maldição aqui a esta mesa... Cá por mim, esta história até chama clientes...

Abriu a boca exibindo o bolo alimentar, a cabeça atirada para trás, a gargalhada atafulhada no rojão, as lágrimas espreitaram no canto dos olhos, emitia um AHAH, UHUH, e baloiçava-se para trás e para a frente, vermelho, escarlate e de repente um arfar, um sufocar na carne que lhe recheava a boca, pendurou ambas mãos nos colarinhos do outro, agora aflito e depois despencou de olhos fechados para grande pânico do amigo.


- Eu não disse?! Ai! E agora? E agora?


(Silêncio)


- Caíste que nem um pato! O turco, não é?! Deixa-me rir! Se visses a tua cara! - disparou numa risota ainda maior, ainda mais sonora, ainda mais balouçada. A cadeira resvalou, sucumbindo ao peso do seu hóspede caíndo desamparado de costas, um som de abóbora a tombar.


- Anda, levanta-te! Pára lá com isso! Achas que sou parvo e caio duas vezes seguidas? Olha os rojões a arrefecerem...

(in Contos Curtos Quase Escuros, C.G.-16/01/2008)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Adorei! Beijinhos



Espera! Não vás ainda, lê até ao fim. Afinal o texto não é muito grande e pelo sim, pelo não (nunca se sabe, não é ?!) é melhor não fiar nas duas últimas linhas do post para tirar conclusões.

É que é aborrecido dizeres que é muito bonito, lindo o poema, quando afinal até é uma prosa e quiçá, hoje apetece-me divagar sobre a solidão ou abandono ou até mesmo sobre a morte. É que não fica bem, sabes...


Depois, se leres tudo, tudinho até à última gota de letra nenhum mal daí vem: Não dá dores de cabeça, nem perturbações na visão nem tão pouco um derrame cerebral. Quanto muito, poderá não se entender todo o sentido do texto ou não se concordar com a mensagem ou não se gostar.


Isso! Não se gostar, é bom! É sinal que se leu, percebeu mas não se apreciou o estilo, a forma de explanar ou o próprio conceito. E assim sendo é melhor dizer a verdade ou não dizer nada. Ninguém leva a mal! Afinal o direito à diferença é o que engrandece as mentalidades e a diversidade tem o dom de tingir de novas cores pontos de vista pardacentos.


AH! Outra coisa! Nada de tirar ilacções do conteúdo através da imagem! Há vezes em que a foto escarrapachada só tem ligação com a escrita para o próprio autor, por isso nada de fiar. Claro que os que vêm pelas letras e digerem o texto sempre encontram o fio condutor! Mas... é só um aviso.


E como acima eu já tinha dito que isto não ía ser comprido (já vamos em quantos parágrafos?) cumpo aqui com a promessa.
Ponto final.

domingo, 27 de janeiro de 2008

sábado, 26 de janeiro de 2008

Apanha-me!


Cheirava a terra molhada, suor, bosta de cavalo e aquele envinagrado do sangue que sempre parece deixar um rasto nas narinas mesmo que se fuja para longe.
Dói-lhe o braço, o ombro, a mão e nem mesmo o calo de anos de treino e a protecção de couro fino para que não perca a sensibilidade do fio, após tantas horas de disparo, consegue evitar o corte junto ao encaixe das articulações do dedo médio. Mas não pára, não baixa os braços, não se rende, incentiva os outros.
Já passaram cem anos e hoje é só mais um dia e não será neste que se vai entregar. Os gemidos e os gritos da dor lenta da morte não o afligem, habituou-se a eles, são os sons de campo de batalha, tão normais como o cantar da cotovia na sua aldeia. Aqui, em terra estranha e inimiga só existem estes cantares e até destes precisa ouvi-los para não esquecer, para sentir a raiva que lhe dá o poder de erguer o arco do seu tamanho, mirá-lo na extensão plena da sua corda fina e derrubar mais um francês acobardado naquela moita.
Fechou o olho esquerdo, o cotovelo direito ponteou elevando-se à altura do ombro, sente o fio tenso como uma corda da harpa de um bardo raspar-lhe o queixo, o nariz, a mão firme na direita do seu braço. Solta e ainda ouve o silvo da flecha cortar o ar, os gritos, o relinchar. Não sabe se acertou no alvo mirado, sentiu uma pancada na nuca e viu muito rápido junto à cara o verde revolto e espezinhado numa poça de sangue, depois tudo escuro.
Ouve sumido um linguajar que não entende, o chão a rodar, a cabeça próximo dos pés, cheira a fezes e urina, sangue e carne podre, tem terra na boca, nos olhos, sacode a cabeça e cospe. Está sentado no chão com mais companheiros, todos amarrados, foram apanhados, agita-se no frenesim da besta caçada e procura desesperado libertar-se do cativeiro, pedem-lhe os outros que seja digno e honrado nesta hora, que muitos sabem o que acontece aos arqueiros aprisionados. Ele também sabe mas não quer ser mais um.
O companheiro do seu lado é levado pelos cabelos até um tronco aparado e vermelho. Assentam-lhe a mão direita recolhendo os dedos apenas sobrando o médio. Resigna-se, cerra os dentes, sabe que chegou a sua hora e invoca o rei. O som seco do carrasco a separar o dedo poderoso cala por uns segundos o tempo. Empilham-se dedos roxos e cobertos de insectos ao lado do tronco. O arqueiro desfalecido é arrastado para um canto.
Chegou a sua vez, retiram-lhe as cordas para libertar o braço na amputação que o desonrará da sua linhagem. Chuta, esperneia, morde a mão respingada de sangue inglês do carrasco, cabeçeia o seu opressor, urra e na surpresa de todos apanha a oportunidade e corre, corre, corre muito que a morte vem lá.
Sente-os no seu encalce, cheira-os mas ri como um louco e antes de desaparecer no nevoeiro que entretanto tombara, volta-se para trás e grita APANHA-ME! espetando bem alto o dedo médio calejado.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O papel quimico



O papel quimico teve os seus tempos de glória. Agora, poucos se lembrarão destas folhinhas que manchavam os dedos num das faces e quando agitadas emitíam um som em tudo semelhante à prata de um chocolate, descartada depois de nos lambuzarmos na iguaría.


A função do papel quimico é, por decalque, a transferência de um original para uma outra folha, ou seja, copiar. Esta propriedade de criar cópia, cópias era activada através do carbono, uma fina película que preenchía a tal face do papel que esborratava as mãos e que depois de pressionada, riscada, batida, transmitía para uma outra área o desenho original.


Claro, que como todas as cópias, o transferido nunca era lá grande coisa, imperfeito, algumas ausências na continuidade do desenho ou do texto por falha do tal carbono ou até mesmo da agilidade da mão que procedía à duplicação de um original e tão ciente estava o seu autor da sua má qualidade, que a cópia produzida ou cópias arrematadas eram sempre para arquivo e nunca para exibição à luz do dia.


Embora em desuso, ainda se encontram por aí alguns exemplares desta técnica.


E obviamente que tal como dantes, nunca passarão de cópias, falhos de uma originalidade que de todo comprometerão algum dia o poder da criatividade, pois verdadeiro é só mesmo um.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

APELO



Esta é a Olivia.

Supõe-se que tenha sido abandonada. A Nice recolheu-a, temporariamente, uma vez que já tem a Ema e o Salvador e não tem condição de manter mais um.

Procura-se quem adopte a Olívia, a cuide, alimente e simplesmente a ame.

Mais informações em This Nice World.

Obrigado.

Cronicas do Tejo (X)

O rio negro vai cheio.

As duas margens iluminadas a pérolas artificiais demarcam a fronteira do norte e do sul.

O elevador de Olho-de-Boi eleva-se majestoso escarpa acima, guiando o olhar através da escuridão e do miradouro onde algures adivinho a Casa da Cerca.

Lembro piqueniques, não sei bem porquê... cestas cheias de alegria e sanduíches, gritos, uma bola, um panamá de elástico, croquetes, o meu nome chamado numa entoada que ecoa até agora...

Cheira a humidade, cheira a humanidade.

As primeiras tosses e espirros acordam o viajante atordoado pelo embalar, que incauto deixa caír o guarda-chuva. Pede desculpas baixando a cabeça, fala num plural indeterminado como se ali fosse lugar de dormir e ninguém devesse perturbar este nocturno de sono corrido e aproveitado em qualquer encosto onde se senta nas próximas horas.

Não fecho os olhos, vejo Lisboa, envernizada e de telhados brilhantes e luzidios.

Alma lavada de Lisboa, colinas molhadas, luzes amarelas.

Entro nesta margem escudada como um bicho-de-conta.

Se me tocarem acciono a carapaça e enrolo-me sobre mim: é que trago segredos do outro lado.


(in Crónicas do Tejo, C.G.-17/10/2005)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Overtime

Houve um tempo em que eu fui uma pessoa normal. Como toda a gente. Levantava-me, ía trabalhar, pagava impostos, almoçava de pé, dormía nos transportes para aproveitar o tempo, discutía o preço da hortaliça com o merceeiro, vía a novela e deitava-me.


Era sempre assim, sempre certo, sem sobressaltos, tudo planeado, uma segurança absoluta no advir, sem arrependimentos nem questões sobre o que já tinha passado.


Um dia acordei, como todos os dias, e senti-me estranha; não me sentía doente nem nada. Aliás não sentía nada, nem braços, nem pernas, nem cabeça, nem vagina, nem coração. Deixei-me estar sossegada e esperei que passasse. Mas não passou... ou melhor veio tudo, tudo, compreendem?! Doía-me tudo como bocados independentes de mim, vidas separadas no coração e na boca, e nas mãos e eu já não mandava em nada, já não mandava em MIM!


Olhei o relógio a custo, num momento de distracção de um dos meus braços e vi assustada que tinham passado mais de vinte anos! Gritei, gritei tanto que a vizinhança deitou a porta abaixo, atropelando-se para me assistir descomposta.


Semi-nua, corri com todos. Não sei onde fui buscar forças nem arrojo para tamanha façanha: vi-lhes as caras, o pânico, o medo de mim! Mas como? Eu faço medo a alguém?!


Apercebi-me que começara a recuperar o dominio das minhas pernas: dançavam, empoleiravam-se no bico dos pés, esticavam chutos adiante e depois o tronco, a barriga a ondular como uma serpente subindo até aos braços, as mãos com uma energia de movimentos como nunca tivera em toda a minha vida.


Na verdade sentía-me fantástica, até o sangue eu controlava nas minhas veias, rápido, disparado, injectável no coração louco a insuflar e vazar e depois saía filtrado, limpo, jovem, um canto de nascente que me brotava pela boca a plenos pulmões e eu berrava ESTOU VIVA, ESTOU VIVA!


Saí à rua e o primeiro homem que apanhei segurei pelo pescoço e mordi-lhe a boca, os lábios, penetrei-o de lingua e olhos nos olhos disse-lhe que ele era horrível e corri para outro e arranquei a roupa a uma mulher que sempre me mirava quando chegava a casa.


Não sei como o consegui mas desatei a uivar e a latir e a gritar e toda a bicharada do bairro entrou num êxtase, fazendo uma barulheira tremenda.


Agora sei, mas só agora, que a esta altura já tinham chamado a policia. Ainda lhes dei trabalho e nunca me tinha divertido tanto nem mesmo quando apanhei aquela bebedeira no copo-de-água no casamento da minha prima.


Estou internada, afirmam que estou louca.


Eu também acho. Ter deixado passar tanto tempo sem viver é mesmo de loucos.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Contos Curtos Quase Escuros - Frutos de Inverno



Aníbal Castanha nunca fora bonito. Aliás, a formusura era coisa que ele próprio só assistía nos outros. Demasiado baixo, demasiado gordo em tudo semelhante a um peão, fora na meninice o fruto mais apetecido da chacota dos seus colegas e na adolescência a exuberância do acne mordiscara-lhe a face, esburacando-lha tanto quanto à alma.

Do sexo feminino apenas atingira distância e já na idade adulta a calvície fez-lhe tombar as últimas lágrimas.

Esmorecía os seus lamentos nas linhas muito pensadas, apagadas e emendadas de versinhos lamuriosos, em que se personificava no abandono da bela amada, qual Cyrano escondido na palavra.

Enchía páginas e páginas de cadernos de duas linhas, a letra muito aprumada, a mão enxuta de suores que lhe tomavam o sentir no lenço branco apertado no aperto da solidão. E por anos versejou e por anos enviou as suas pequenas crias a várias editoras que de resposta lhe devolveram o silêncio.

Porém um dia, a mão transpirada deixou caír o auscultador do telefone ao ouvir do outro lado uma voz fininha que o convidava para um serão literário, uma tertúlia vasta em que a sua obra a contento sería declamada para uma assistência dada a estas coisas singelas.

Aníbal Castanha apressou-se na selecção dos seus melhores trabalhos e numa noite de Inverno frio e molhado lá apareceu no Grémio, os pés no desconforto do guarda-chuva escasso para água tanta, a baínha das calças enlameada e pesada. Mas sentía-se feliz.

Apresentaram-lhe a diseuse, uma mulher leitosa de veias muito pronunciadas e que lhe sorriu encantada demorando a mão na sua. Aníbal Castanha sentiu-se muito, muito feliz.

As luzes baixaram o seu tom garrido e a mulher numa voz limpida projectou os primeiros versos.

Ouviram-se alguns suspiros, um tossicar. Aníbal Castanha ouvía anjos. Parecía-lhe tão maior a sua poesia doméstica, os seus desamores uma dor suprema, bela.

Sentiu dentro de si um ardor, um fogo que lentamente o tomou desde o abdómen até às orelhas, uma dormência no braço esquerdo, a boca seca. Desde muitos anos atrás chorou lágrimas profundas e quentes, as mãos aguaram-lhe como nunca. Tremeu e pensou que nunca fora tão feliz na sua vida.

A sala fez-se numa ovação única, alguns de pé, a declamante chamou o artista, o poeta, uma e outra vez.

Mas Aníbal fechara-se como um fruto de Inverno e nunca chegou a escutar as palmas.


(in Contos Curtos Quase Escuros, C.G. -15/01/2008)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Não quero muito de ti



Não quero muito de ti.

Nem promessas nem feitos,

Que sejas tu, basta.

O que me hás-de ser me servirá,

Simples, lágrimas à ida e um sorriso à chegada,

Beijos pequenos pela manhã um longo e molhado na madrugada.


Não quero muito de ti.

Nem mãos acenadas nem abraços breves,

O teu corpo inteiro, basta.

O que me hás-de tomar teu será,

Simples, orvalho à chegada e mar à partida,

Olhos rasgados pela manhã vendados na madrugada tecida.


Não quero muito de ti.

Nem ouro nem prata,

O que sonhamos, basta.

O que te amo paixão será.

Simples, lua crescente sol a nascer,

Inverno em que me aqueces Primavera no florescer.


(in Toda a Poesia despida, C.G. Novembro/2007)



domingo, 20 de janeiro de 2008

sábado, 19 de janeiro de 2008

O fisico e a química

Conheceram-se num encontro para jovens empresários.
Tanto ela como ele se sentiram imediatamente atraídos um pelo outro. Talvez porque os opostos tendem a comunicar-se com uma linguagem muito própria, quase semiótica, um imã puxando no seu sentido.
Ele lourissímo, ela de uma tez trigueira e cabelo negro.
Complementavam-se nos vários debates, opiniões sobre o mercado a explorar e por várias vezes a oratória parecía ser a uma só voz. Doutras atropelavam-se ferozmente.
Quiseram encontrar-se para lá da vida profissional e o primeiro encontro pareceu ainda aproximá-los mais: a comida e os restaurantes favoritos eram comuns, bem com os locais da noite citadina, a roupa e as marcas e os perfumes eram os mesmos que preferíam ver e sentir no sexo oposto e quando entraram no campo da arte, tanto os livros como as exposições de pintura tinham sido vistos com os mesmos olhos e a mesma admiração crítica.
Mas o que era mesmo fantástico era a comunhão que tinham passado sobre o que não gostavam.
Falaram então de amores. De relações passadas e não vingadas.
Mas não disseram um ao outro quais as causas por que esses laços não se tinham atado. Ficaram suspensos na interrogação provocada ao outro, nas pausas, nas reticências, no mudar de assunto.
Saíram ainda uma e outra vez.
E ao quarto encontro, abrigados pela escuridão e flashs de um bar da moda, beijaram-se quase a alimentarem-se.
Ele surpreso ela admirada. Não pelo desejo que sentíam mas pela forma como tinham devorado a boca um do outro. Voltaram a colar os lábios e numa sôfrega vontade, encontraram naquela caverna macia, quente e molhada um terreno que parecía ser já do seu conhecimento havía muito tempo. Mas ambos pensaram que o lógico sería assim, como almas gémeas, o universo a complementar-se e a completar-se.
Não perderam tempo em mais conjecturas e foram para casa dela, mal batendo a porta ele a assaltá-la pela cintura prendendo-a contra si, obrigando-a a sentir o desejo crescente encostado na sua púbis, entre as coxas, empurrando como uma alavanca violenta. Ela mordeu-lhe grosseiramente o lóbulo esquerdo e depois chupou aquela ponta mole da orelha enquanto o afastava como podía para longe de si, sorrindo maldosa e deitando-lhe a mão em concha àquelas carnes.
Ele curvou-se quase num susto e olhou para ela: aquele rosto moreno enfeitado de uns olhos mouros estava tingido de vermelho e a boca ria pela presa que tinha na sua frente. Achou que a surpresa era melhor estratégia e lançou mão àquele peito cheio que o desafiava desde o primeiro dia que se tinham encontrado. Amachucou a camisola justa para cima e descobriu-lhe um único seio fazendo-o saír do soutien naquele tom escuro que o fascinava. Abocanhou-a e até a mordeu. Ela porém, hábil havía desprezado as calças dele e num esforço começou a obrigá-lo a baixar-se, quase de joelhos, forçando a que ele por terra ficasse à sua mercê.
A diferença de estatura levou a melhor dele e acabaram os dois no chão, a rolarem um sobre o outro a sua vontade de dominar.
Quando ele lhe prendeu os pulsos contra o chão e por dentro dela conquistou território, ela rugiu como uma fêmea que precisa de matar o cio mas não se quer dobrar à vontade do macho. E após alguns minutos, imobilizou-o à força de pernas e de um só golpe virou-o invertendo posições: agora estava ela por cima a comandar e à medida que o domesticava, os seios balançando naquele movimento de galope árabe com as ancas seladas e arqueadas começou então a sentir que se aproximava do que quería, esquecendo-o para numa vontade egoísta marcar o ritmo que acelerou.
Ele não conseguiu conter a natureza e seguiu-a não só pelo movimento e força mas também pelo entusiasmo que ela lhe demonstrava.
Caída sobre o peito dele como um colchão, os cabelos negros abafando o louro não se apercebía que alguma coisa, pela primeira vez não havía estado em uníssono e aquela que parecía ser uma parceria perfeita num momento chave da vida não havía funcionado.
Ele empurrou-a sem cerimónia e sentou-se.
Estava pensativo e perplexo.
Ela pousou-lhe a mão na mão dele e o olhar disse-lhe que era assim, dominante, dominadora, activa, impulsiva e selvagem. Ele verbalizou que também ele e não admitía ser subjugado a nada e muito menos numa situação em que se dava, que dava de dentro de si.
Os lábios dela alvitraram que se experimentasse de novo mas a química havía-se ido e ele não quería mais nada a não ser o macho cobridor, o que liderava.
Vestiram-se em silêncio. No ar apenas pairava aquele aroma intenso e acre do querer consumado.
Ela levou-o à porta e de face encostada à ombreira pestanejou dizendo que a vida era miserável mas não podía ir contra a sua natureza. Ele concordou amargamente, admirando-lhe o belo corpo.
Esticaram a mão direita e num aperto forte e longo despediram-se.

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(in Contos da Fogueira, C.G.- 27/09/2006)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Surpresas

Anda-se uns dias por fora e quando se regressa é isto: Toma lá Prémio!

A ASPÁSIA, jardineira de poemas e canteiros onde se podem colher flores à vontade, atribuiu ao Árvore das Palavras este selo distinto e unicamente atribuível às meninas.


Obrigado Aspásia, principalmente pelo teu companheirismo e cumplicidade ao longo destes meses, boa disposição e magnifico versejar.

Mas também o LUÍS me surpreendeu. De duas formas: pelo prémio e porque é um leitor mui recente do Árvore.

Agradeço sinceramente a lembrança e a atribuição.

É suposto a entrega destes prémios sob condições que estão subscritas a regras de números de agraciados. Não vou dar seguimento a essas leis... Da minha lista de links, aí ao lado direito, considero-os todos merecedores e não faço distinção de géneros. Ou melhor, é o género que eu gosto e para mim isso é bastante.

À Aspásia e ao Luís, um beijo e muito obrigado por brindarem a Árvore.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Iatos



Para gáudio de uns que me encontraram silenciada e desespero de outros que me espreitam regressada cumpre informar que VOLTEI.

O que é que me aconteceu?

O que quiserem: imaginem-me viajada, repousada e tratada como uma princesa. Ou então, numa lufa-lufa de pesquisa, traçando novos motivos de escrita. Ou prisioneira: de um amor único que me compromete o pensamento e o sentir, que faz de mim lua na noite ou astro-rei durante o dia... Ou será que apenas deixei de ter vontade de escrever? E que voltei à dança? Ou que estive ocupada com algumas editoras? Ou que disfarçada movimentei-me no maior à-vontade pelos wc masculinos? Ou que de vez me transformei num elefante ou num cão?

O guião fica à vossa responsabilidade.

Obrigado aos que vieram e me leram.

Aos vossos comentários respondo de seguida, atenta e carinhosamente.

Um beijo,

C.G.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Compreender


Há gente que tem muitos livros, cita passagens de livros, transcreve trechos de livros mas se lhes pedirem por palavras suas uma explicação sobre, a coisa fica dificil e embaraçada.
Alguns ouviram falar de um autor X ou Y, até se deram ao incómodo de libertar uns dinheiros e no sôfrego da apropriação da obra acham-se plenos na leitura da badana. Et voilá! Aptos para todo o serviço.
Depois, existem os decoradores, aqueles que forram a estante ou o móvel da sala paredes-meias com o Hi-Fi e o televisor sintonizado na novela mexicana e combinam lombadas com o estofado do sofá e a ramagem do reposteiro.
Lêem, lêem centenas de páginas, alimentam-se de literatura, não passam sem um livro à cabeceira, mas continuam a dar os mesmos erros ortográficos, brilhantes como pegadas florescentes ( e não fluorescentes, pois florescem na ignorância do verbo reflexivo).
Uma outra categoria são os carregadores, uma vil concorrência das empresas de mudanças. Afinal, transportam o mesmo calhamaço por toda a semana útil. Muito interessante, aconselha-se a leitura profunda, aprendeu-se muito. Mas as páginas continuam incólumes à unha ou ao cuspo tocado no canto.
Só quería compreender. Como se pode tratar tão mal a capacidade que se tem de entender as palavras de outros.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Os meus segredos (sete)

Na frieza da noite que ainda pingava sobre o mundo saí para a rua.

Já tinha, aliás, saído antes, que levei estas horas como um soldado na guarita, mas sem rendição.

Foram as horas que se cruzaram comigo que o resto dormía letárgico num abandono do corpo, da natureza própria que não tem explicação, naquele tempo em que adormecemos e não sabemos para onde vamos.

É uma perda de tempo. Um mal necessário e absoluto.

Como a noite. Que precisa de chegar para que o dia a ultrapasse. E o frio, que antecede o Estio.

Nesta noite tive o escuro, o frio e o mundo só para mim.

Uma rua inteira só para mim, de cima a baixo.

A envolver-me, apenas a neblina fantasmagórica e húmida como um anjo da guarda.

Talvez outro soldado que não tem quem o substitua.

Afinal tudo é único.

Até eu nestas horas perdidas.



(in Os meus segredos, C.G. -08/11/2005)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Naus



De vez em quando embarco. Sem me dar ao trabalho da escalada da ponte e da mão firme na corda de corrimão nodosa. Apareço lá dentro, sózinha, um silêncio de mar ritmado no ranger das velas brancas, altíssimos mastros, a mão em pala não cobre o brilho fulminante do rei mas mesmo assim insisto em altear a gávea e tentar descobrir o rosto do moreno de tronco nu que afia na rapina do olhar poiso seguro para mim.


Não sou dama, não sou donzela tão pouco princesa, não perco tempo no fanico, que fanico ía eu tendo antes de embarcar. Por isso zarpei, escapuli-me de conversas chatas como um clister de açorda, evadi-me da mundaneidade politicamente correcta com um ou dois asneiredos tipicos de um marinheiro curtido pela salga, puxei a pala ao verde do olho e azulei no mar.


Canso-me facilmente em terra, esgoto palavras rápido no entretenimento fútil do diz-que-disse-até-parece-que-então-é-assim. Reviro os olhos, aponto um dedo gatilhado na boca escancarada para que os estilhaços respinguem quem me aborrece e fujo.


Cá estou eu, pirata de argola e facalhão à cinta, se me voltarem a incomodar o pensamento vai tudo a eito.


Até lá viajo, permito-me ser cortejada nesta nau da alma, que esta não tem preço mas nem todos conseguem embarcar. Alguns pedem boleia...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Contos Curtos Quase Escuros-A Estrada

Unidos nas mãos até aos cotovelos, testa apoiada na testa, nariz roçando o esquimó, o hálito perto a entrar na boca do outro, só sorriso.

O café e o chocolate tinham sido quentes, résteas desoladas no fundo das chávenas que espreitavam o melaço dos namorados, palavras pinguças de tanto se quererem nas promessas eternas.

Lá fora fim de tarde, quase escuro, quase chuva.

O empregado pigarreou a enxotar os dois únicos clientes, cansado de tanto cuspo a lustrar o tampo das mesas, os pés numa só fadiga arrastados em trambolhos e joanetes, gorjeta magra e destes, o seu calo dizía-lhe que nenhuma iría ver.

Atreveu-se, bateu com os nós dos dedos a despertar o casal, vamos já, e beijavam-se, atrevidos na lingua exposta e no molhado até ao queixo, quero fechar!

Libertaram-se, ela encolheu as mãos entre as pernas, corada e a limpar o rosto ao ombro da camisola, ele meteu a mão ao bolso, puxou da nota engelhada e sentiu que não se devería levantar de imediato. Recostou-se, tentando manter uma distância que o acalmasse.

Vieram as moedas de mau modo, passaram os braços pelas costas um do outro, mochilas de banda e saíram.

Ficaram no passeio a roçar vontades, altos por baixo das camisolas que se movíam lentos mas habilidosos, mais promessas, pedidos, beijos, beijos, até já, beijos, tenho de ir, beijos, espera, e mais um longo, as cabeças rodando no jeito do nariz desempatar aquele caminho até à boca.

Vou agora, vai, liga logo que chegues e afastam-se, ainda na ponta dos dedos o elo mágico da fusão.

Ela atravessa em passo rápido e curto a estrada mas a meio ouve o pedido liga-me! e num ímpeto apaixonado corre para os braços que a clamam.

O carro ainda travou mas a pancada ouviu-se seca.


(in Contos Curtos Quase Escuros, C.G. - 02/01/2008)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Cartas ao Poeta (XI)


Meu mui querido Poeta,
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Imaginava-te ido.
Envolvido neste manto frio e húmido que cobre misterioso esta península atirada a águas mágicas, encapuzado de idéias e letras, armado no papel e lápis toscamente afiado para em traços grossos e já na volta, riscares linhas que brotam paixão.
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Pensava-te longe de mim.
Aconchegado nessa solidão que procuras como inspiração para outros planaltos, estágio superior a este mundozinho de cinza e fealdade, bebendo tristeza no verde e na alma.
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Recordava-te sorrindo para mim.
Encantado nas simbioses de poemas, prosas faladas, memórias reveladas entre festins de comida farta de coisa de terra, fascínio da descoberta, desilusão do concreto, cheiro puro de cativar.
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Leio-te em permanente saudade.
Vai e traz-me prendas. Oferece-me o que os teus olhos guardam no coração e dormirei sossegada.
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Meus beijos a ti.
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(in Cartas ao Poeta, C.G. - 29/11/2005)

domingo, 6 de janeiro de 2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

Fantasmas

Paira no ar aquela espécie de tempestade pressentida que vem a caminho mas não há meio de dar sinal evidente que vai acontecer.


Fica aquela sensação receosa de querer saír do abrigo sem saber muito bem quando o deveremos fazer, certos que será na altura da saída que ela nos cairá na cabeça. Na cabeça fica o capacete, moídor, com pretensões a torno, que não é bem dor à séria mas perturba a visão e a lucidez do pensamento.


E as pessoas de cabeça pendente escondem o rosto da vida, o sorriso dos outros sorrisos, um respeito pela atmosfera fechada, o corpo fechado ao vento guarnecido a negras cores que este é um tempo de escuridão. As mãos atam-se em bolsos, presas no movimento de dar, oferecer, cuidar, afagar outrém.


Quer-se e precisa-se mas envergonha-se a demonstração - que este ar é austero e pressagia trovoada - não vá esta castigar quem quer ser feliz.


É o silêncio que ensurdece na palavra parca. Mais audível porém, que se ouve o gume a silvar na carne.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Descalça


Quando chegares não batas à porta: a chave está dentro do vaso de petúnias. Sim, essas que já estão um bocadinho murchas... Entra devagar sem ruído, não quero sentir-te chegar, melhor será que te descalces que não quero saber que te aproximas pelo som dos saltos a estalarem no sobrado. Quero que me surpreendas desprevenido, que me pregues um susto até, quero ficar com o coração disparado pela imagem de tu apareceres do nada, sem aviso prévio. Por isso não ponhas perfume senão adivinho-te logo, o cheiro hei-de eu descobrir-te, eu suado pelo imprevisto da adrenalina injectada de num repente me encontrar olhado por ti.
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Vem devagar, em bicos dos pés, a gatinhar se quiseres, cuidado com o chão à entrada do quarto: a madeira range e se eu o ouvir vou saber que és tu que vens no meu encalce.
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Também não quero que fales, digas olá quando me encontrares distraído, absorto de ti, perdido pela casa sem estar à espera que chegues.
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Agora que sabes as condições, vem.
O que vai acontecer é de tua ordem, de tua vontade, do assalto que fizeres. De tua arte. Mas já sei que quando saíres vais bater a porta com força e regar as petúnias para que se mantenham vivas até à próxima visita em que te pedirei de novo para entrares descalça.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

No sitio do costume



Às quatro pois, no sitio do costume onde havería de ser, sem erro possível. Depois partiam em direcção ao mar guiados pelo cheiro picante do iodo, onde a ventania embrulha as ondas e estas espumam da raiva de serem controladas. Se chovesse, melhor sería, a tempestade a empurrá-los pelas costas ou a encher-lhes a boca de palavras que se íam estatelar contra as rochas escuras, a corrida desenfreada um atrás do outro, o arfar, o corpo a ceder na parede do invisivel assobiado que afiava os olhos para um horizonte que se cobría e descobría conforme as vagas.


Encharcados, esgotados e silenciosos recolhíam-se a casa ao abrigo do duche quente.


Fumegavam-se no desvario da besta a domar, uivavam desejos na tempestade da água que lhes caía e no urro do horizonte atingido fazíam-se homem e mulher ciciados no sitio do costume.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Flechas



Há coisas que simplesmente fazem o dia. O meu. Podem parecer quase inúteis, nada de palpável ou visivel mas apenas enchem o coração e fazem parecer mesquinhos todos os ruídos sem interesse que muitas coisas e muitas pessoas fazem à nossa volta.

Falo de gestos, sons de vozes que nos chegam, macios, reencontros com amigos que não víamos há algum tempo, descobertas do outro, uma carta, um simples recado.

Tudo isto me inebria, eleva o meu bem-querer, faz-me especial.

A coisa sem forma tem uma beleza muito além da dimensional e tocável porque a torna tão unica e rara, semelhante à mão do arqueiro, certeira, firme.

Hoje fui atingida por várias flechas. Estou vaidosa sim. Mas apenas porque me apercebi da riqueza que me foi entregue.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Janeiro


Mês um.
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Mês primeiro das minhas decisões impostas pela meia-noite do ano que quero esquecer, pois que esta vã magia do dia seguinte nada mudou afinal, que a vida é aquilo que fazemos dela e o tempo o carrasco nas nossas próprias mãos.
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Aceito a chuva e o frio com uma alegria de Primavera porque a partir de agora tudo será melhor, mas entristeço-me com gatos e cães vadios que já o eram e nem mais nem menos o coração me dói como sempre doerá. Também me zango pelas inutilidades de espadachim verbal dos politicos, dos chefes e com as minhas, que afinal promessas tantas à última da hora e caio sobre os joelhos, vergando-me ao meu carácter.
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Mês um.
Nada mudou.
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Arranquei a folha de calendário como se tira um adesivo ao esfolão de uma criança, rápido, para que o arrepio seja curto.
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Não senti nada afinal.
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(in Public. Dizer, nº21 2006/2007, C.G.)