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segunda-feira, 18 de março de 2013

Casablanca I

 
 
 
 
Há um perfume constante no ar, um oxigénio envenenado de aromas doces que de inicio se agrada, depois se estranha, de seguida se sente a náusea embrulhada no atordoamento dos sentidos, os cinco, todos presentes num formigueiro que receamos ser tóxico à vez com o demasiado presente para até então não ter existido na nossa vida.
O barulho ensurdecedor do trânsito tolda o discernimento necessário que completaria o raciocinio para entender o efeito desta droga, e a eficácia dos açúcares melados é bem mais forte que qualquer capacidade, por isso faço como os nativos, desisto, deixei de lutar contra o ar, deixo-me ir, sinto as narinas quase em ferida de tanto respirar profundamente para não saír dos limites aceitáveis entre a menta e o mel, o árabe e o francês.
Provavelmente a minha realidade é o imaginário das histórias contadas muitas vezes sobre sultões, uma areia próxima que se foi amontoando em dunas e depois dimensionada aqui mais próximo, uma África quase à vista, e ainda assim esperava eu cavaleiros de rosto coberto por panos azuis-cinza e filas de camelos, pouca vegetação, um ou outro oásis, películas da minha invenção na ponta da caneta, que sei eu, ignorante?!
Agora devassada no âmago por um profundo cheiro que me embrulha, alimenta, confunde e seduz, vejo desconcertada os quilómetros de bom asfalto na estrada militar que o táxi reservado com ar condicionado vai ganhando no regresso ao aeroporto e sem perceber porquê, sinto que deixei aqui qualquer coisa, sinto que levo bagagem a mais.