Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Da escrita

 
 
 
 
 
Eu moro aqui.
Num qualquer lado avesso sem etiqueta nem costura de remate onde se ligam os filamentos da ausência com o estar profundo, o corpo mais os olhos ao longe, perdidos numa chuva caída a direito sem sopro do vento. Há o sorriso e há a surdez do ruído dos trovões que antecedem a corrida para escapar ao atropelo do molhado, depois a espera, o calor do coração ritmado, o rasgo das palavras, a partida, o voltar a sentar perto das gentes sem nunca de lá ter saído.
O som que retorna...
[Estás a ouvir? Porque não respondes quando te chamo?]
Podía agora estender-te um caminho de letras e tu seguías-me por aí fora até casa, sempre ladeado nesse carreiro que se amontoa à medida do que penso e do que me emaranha nas noites e nos dias e em espaços onde não consigo respirar, mas terías de correr, porque até eu tropeço e caio e tantas vezes esfolo os joelhos sem perceber que seguindo até onde moro, já devería conhecer esta estrada de cor e salteado e ainda assim... a fantasia dos atalhos, árvores, penhascos, falésias, insectos e outros animais que vêm seguir-me ou apenas amedrontar a minha coragem e fazer companhia à solidão de outros que também moram perto de mim, arreda-me a direcção e acrescenta mais verbo, mais caminho...
[Parece que estás no mundo da lua!]
Eu moro aqui, abram-se páginas ao acaso, apontem o dedo, cuidado com as crateras.