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sábado, 27 de março de 2010

O livro negro dos homens (nove)

Pediram-me que escrevesse sobre o quotidiano e eu, sempre esvaída em palavras, entupi pelo preço da encomenda.

Pensei no que já tenho de feito, lavrado nas horas do aconchego fumado passadas entre braçadas de memória ou veios inesperados que se exibem num filão tresmalhado.

Agora... assim, a pedido. Não sei nada.

E penso que se não sei nada também não saberei escrever. Ou pelo menos, sê-lo-ei (presunção) mentirosamente, escritora de mata-sete, que quando os outros de mim se escapam escapa-se o saber das letras.

Estou encostada numa parede de alfabeto que não sei ordenar, confusa, o pedido dificil de atender.

Quero lembrar-me de cenas do quotidiano e só me saltam como rolhas de um vinho demasiado gasoso, imagens de mim mesma, dobrada, por vezes aflita pela imensidão que as palavras se transformem em seres que me acompanham por uma vida, que não minha, também minha.

Pedem-me e eu egoísta só me vejo a mim.


(Lx, 09-03-2010)

3 comentários:

Alien8 disse...

Percebo.
Também, um pedido desses! Sobre o quotidiano? É difícil. Muito abstracto e vastíssimo. E se fosse, sei lá, sobre o queijo da Serra? Ou sobre o jantar de ontem? Ordenarias mais facilmente a parede de alfabeto (!!!) a que te encostas?

(Em tempos joguei xadrez. "!", nos comentários escritos a uma jogada, significa "Bem jogado!").

Gasolina disse...

Alien8,

Das coisas de comer sei bem mais do que das escrever (tudo o que sinto).

O jantar de ontem?
Hum... E que tal sobre um jantar num Sábado sem tempo?! Onde as avenidas foram curtas, curtissimas para tanto inscrever de palavras bonitas.

(!)= Isto é para os teus comentários. Já to tinha dito. Eu sou muito atenta.

BF disse...

Não será egoísmo... o quotidiano tb faz parte de ti :)