O mapa dobrado como uma concertina estava de pernas para o ar, mas o dedo sabía perfeitamente que era aquele o círculo que quería, aí era o seu destino. Pedía desculpa ao abordar, tentava não enrolar a lingua naquelas palavras estranhíssimas mas só à terceira vez é que percebíam o que pretendía.
Costumavam responder-lhe aos gritos e como não entendesse as direcções que lhe apontavam mais alto ainda lhas dizíam de peito encaminhado para a rua que devía descer e de costas para ele.
O homem parou, olhou o mapa, o dedo e o círculo, a cara do estrangeiro e abanou a cabeça afirmativamente, o outro sentiu a angústia menos acentuada.
Seguiram ombro a ombro, o estranho na cidade tentando falar a lingua nativa do outro, albardando-a com exclamações no seu próprio idioma, o outro sorrindo, sorrindo e concordando.
Chegados ao ponto pretendido o homem da cidade agarrou o pulso do estrangeiro, a outra palma abriu-se no gesto largo do que se oferece.
O outro sorriu, não sabía palavras melhores para agradecer o que tinham feito por ele para além das do dicionário de bolso. Era pouco.
Agarrou entre as suas a mão daquele estranho que não proferira palavra durante a caminhada, sacudiu-a, apertou-a, o outro sorriu, tocou-lhe no ombro e libertando a mão disse-lhe em linguagem gestual que era altura de ir à sua vida.
13 comentários:
gostei!!
falta-nos o espranto!!! :)
não deixaram que falássemos todos a mesma língua era "perigoso".....
Lindo!
Às vezes sinto-me estrangeira no meu próprio país...
Um beijinho grande.
O estrangeiro dentro de nós a corrente de ar no sorriso…
As palavras do sorriso são depreendidas e tem sempre o mágico sinónimo…
“á noite” deixa fechar os olhos… e tactear o caminho que a madrugada acorda um sorriso no rosto e no abraço…
Beijinhos
Querida Gasolina
Caminhei com os personagens do teu conto para um final surpreendente.
Gostei muito. Beijinhos grandes.
Ainda há alguém disposto a ajudar. Na sociedade em que vivemos, cada vez menos se vêm pessoas disposta a prestar ajuda. É uma sociedade egoísta.
Beijinhos
um surdo-mudo que, sem palavras que se oiçam, pode mais do que quem fala...
Teresa Queiroz,
Felizmente!
Tenho o maior orgulho na Lingua Portuguesa e na sua diferença.
Por isso mesmo sou frontalmente contra o Acordo Ortográfico.
Laura,
Eu também. Mas não pelo meu País. É muito mais pelas pessoas.
Beijo com abraço.
F@
O que escreveste é poesia.
Tua.
Eu não consegui tanto.
Beijo, beijo
VicKtor,
Obrigado pelas tuas palavras sempre de tanto incentivo.
Beijo meu para ti
JC,
Tens toda a razão.
Ainda mais quando quem se dispôs a ajudar o estrangeiro era um homem sem som na voz.
Um beijo
So lonely,
Exactamente.
Donde se conclui que quando há vontade...
Obrigado pela tua vinda à Árvore.
palavras para quê?
um beijo atirado com um gesto.
marisa
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