Se se olhar com um pouco mais de cuidado descobrem-se pequenos pormenores interessantíssimos. Ou talvez não. Provável mesmo é que seja apenas de quem olha essa capacidade de transformação do banal no arrojado ou de formas estranhas nas curvas que todos sabem encontrar. Como quando vemos um quadro que aparentemente nos fere a vista pela mancha de cor que nos ataca até ao céu da boca. Isso, talvez seja isso... depois rodamos a cabeça, devagar, muito lentamente até a cor dos olhos se esbater suave na do quadro e fica-se assim, a saborear tons até nos inundarem num circuito de veias e libertarem pequenas faíscas no cérebro.
Se se olhar com mais atenção desfocamo-nos do contexto, labirintos de conteúdo emergem sob a vista. Espreitamos ao redor... talvez ninguém se tenha apercebido do nosso desvio, até mesmo da coisa que parece ser tão evidente, tão evidente que ninguém a acha! Encolhemo-nos. Primeiro na vergonha de nos acharem doidos, depois na guarda do segredo descoberto.
Deve ser por isso que consigo saír de dentro de mim e ficar a assistir-me a escrever. Como o faço agora. Sei que sou eu porque reconheço a minha sombra! Mesmo que ela me fugisse conseguiría encontrá-la no meio da multidão. Trazía-a por uma orelha e voltava a sentá-la, aqui, onde a espero. Onde a preciso de olhar com mais atenção e dar-lhe o mérito devido, quando eu cansada permito que ela me pegue na mão e escreva. Até ao fim. Até este ponto final.
8 comentários:
e não é que entendo perfeitamente! como se por vezes eu e a minha sombra fossemos duas, antes de encontrarmos novamente a unicidade que nos faz viver em comunhão...nem sempre perfeita
beijos
Carla,
Talvez que seja dessa imperfeição que se condimentam as linhas...
Beijo para ti
será a sombra a nossa dualidade?
Querida Gasolina
Esta desmaterialização do corpo é muito interessante de sentir e a forma como a descreves é como sempre sublime...
Fiquei a pensar... e a "des-espiritualização" do pensamento? E o sonho recorrente de leveza... de voar... de procurar o próprio sonho?
Viajei contigo... e adorei!!!
Beijinhos.
Pin,
Sinto-a mais como um agasalho. Que se ajeita aos meus ombros nas noites compridas em que escrevo e me ampara a cabeça, a mão, a caneta.
Um beijo Luísa
Victor,
Meu Querido, essa desespiritualização está também presente. Se de mim a sombra me substitui, não será outro o espirito de quem escreve nesse tempo?
Complexo... de sentir e dizer.
Demasiado intimo até, pudor de falar sobre...
Um beijo, forte como sempre.
Chamo-lhe dualidade. Sou e estou. Essência e existência. Acontece sempre que o sentir nunda o existir.
Como te compreendo.
Bj.
Mateso,
É bom saber que me entendes.
Por vezes esta dualidade magoa. E é tão dificil explicá-la como fazer-me entender quanto à sua dor.
Um beijo Mateso Azul
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