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terça-feira, 10 de maio de 2016

As que se merecem


 
Em que ponto da vida de cada um as palavras começam a rarear - as faladas, digo - não sei, mas era uma interrogação que me fazia porque razão as pessoas mais velhas eram tão parcas no seu dizer. A certa altura convenci-me que sería por falta de companhia, essa ausência de interlocutor deixava-os mudos, mas outros haviam que murmuravam sem ninguém para lhes responder e desses explicava-se que a idade avançada os tería tornado tontos, coitados, já sem saber de que mundo eram falavam para o ar.
Acontece que cada vez mais me apetece falar menos, explicar, retalhar ideias até do outro lado atingirem o que se passa, esgotei-me na decepção das mentiras, dos disfarces, na transformação de tirar verbo da minha boca contextualizando-o em cenários à medida de quem o molda, perdi a paciência das lutas na generalidade e deixo quem não merece na ignorância.
Mas a redução das minhas palavras não significa que me ponha a jeito, que me disponha a bel-prazer de ouvir e ser alvo e sem dor, aceite a estupidez alheia. Não o aceito mas ignoro o que me poderá desgastar sem acrescento, do outro lado nunca chegarão a ouvir.
Afinal, os antigos talvez tenham outros eus a quem murmurar sem desperdício. Uma sapiência comedida, leve como o ar.


1 comentário:

Rui Fernandes disse...

Uma boa questão, pois é um facto o de as palavras começarem a rarear. Tenho várias explicações, nenhuma delas necessária, nenhuma delas suficiente. Ou seja, que não explicam. Eu gosto mais de algumas porque me deixam mais contente.