À tua! Elevo a chávena e cristã fosse eu poderia dizer-se que benzía o momento à figura de meio-corpo reflectida no vidro destapado dos cortinados afastados dramaticamente no drapeado negligé, cada uma de nós silenciosa a beber o instantâneo do silêncio e a devorar a solenidade do cenário com a certificação de um gato, talvez dois, um para cada tranquilos ao estilo inglês com o relógio de fundo difuso a repicar uma meia-dúzia de horas que não interessa contar, depois o ingrato desconcerto da realidade quando se toma nota das cartas a enviar com noticias que se ajeitam da melhor forma a uma delicada caligrafia evitando o óbvio, como dizer, como não dizer, como não escrever, olhamo-nos na cumplicidade obrigada de missões, temos vontade de nos darmos a mão e fazer recuo de cena, voltar a um gole de principio e erguer a chávena, À tua! Mas é tudo uma farsa de igual à caneca que me ocupa a mão, a outra presa na caneta suspensa. Vejo defronte a minha imagem projectada nos vidros da janela, comida a meio pelo tampo da secretária onde o gato branco se aquece à luz do candeeiro e o outro no regaço, mais laranja que amarelo, preguiça-me a vontade de me erguer para dar corda ao relógio centenário que perdeu as horas desde véspera. O instantâneo esquecido no monólogo do meu reflexo está frio, passa o cão arrastando as cortinas de lado emitindo vocalizos a uma noite que vai escoando.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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