Ainda.
Quando a noite profunda azula e os pés se amaciam sem chão nas voltas coreografadas até à exaustão perfeita em que o toque faz parte de um qualquer corpo que seja par, danço, danço todas as vezes em que recordo o que não tive o tempo de dançar e outras tantas o tempo certo de o fazer na respiração ofegante da exaltação ou só porque vi outros a dançar dancei, danço de todas as vezes em que a musica me belisca no conhecimento de a ter desenhado em passos ou porque sentada a água da memória marulha sons que me perguntam se eu danço ou nos desenhos tontos de riscos do pensamento livre as fitas das sapatilhas atrapalham-me as folhas emaranhando-se na caneta até as palavras dançarem todas sobre bailarinas que sofrem dos cheiros de palco, pez, palmas e flores recebidas em abraços ou fingimentos de não ter dor, pergunta-me se ainda danço.
Ainda.
Mas não digo nada a ninguém.
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