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terça-feira, 15 de março de 2016

Sem travessão

 
- Então? Instalada? Gosta de cá? É melhor?
Não tenho tempo de inalar para fazer travessão e em discurso directo responder às perguntas por isso restam os atributos de uma narrativa de lado, em pé por respeito porque fui a última a chegar num bando ruidoso e talvez seja a forma de me desculpar, muda pois também não fica quem me inquire o tempo suficiente para receber o valor da resposta.
Segue.
Repete.
- Então? Instalado? Gosta de cá? É melhor?
À terceira já decorei e tenho tempo se houver oportunidade que se faça o caminho inverso de oferecer as respostas em directo. Com direito a travessão. Até lá, abro os olhos muito muito como faría um lemur para não perder pitada das palavras, pode ser que hajam novas, pode ser que haja um tropeço, pode ser que alguém interrompa e tenha aprendido antes de mim e lhe responda no travessão atravessado na goela.
- Então? A passear? Gosta de nos ver por cá? É pior para si com tanto barulho?
Antes mesmo da surpresa do engasgo hei-de abrir os olhos, mais ainda do que antes, não pela demanda do novo interlocutor mas pelo silêncio que há-de rachar os segundos, o sorriso por dentro, inspirar-expirar, regresso ao discurso indirecto da realidade.
Ouço.
- Benvindos!
De lado não tenho hipótese para o agradecimento, tão pouco há volta de retrocesso, é um caminho de ferradura, pisco os olhos, novo visitante, as mesmas perguntas.
Ainda bem que não sou a primeira da fila.
 
 

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