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segunda-feira, 14 de março de 2016

Travessias do Rio - 8



Tal como eu aqui sentada e composta sem ninguém desconfiar, que aparentemente estarei tão anestesiada quantos os demais fregueses, também alguém mas numa das duas margens estará composto e aguardando sem que ninguém desconfie, olhará dentro do cacilheiro, eu num desses lados, o Rio de permeio como régua de medida do caminho que tomamos até nos encontrar.
Um dia.
Um dia pode ser que os nossos olhos se achem, os dele toquem nos meus, aqui sentadinha e bem direita, sem nada dar a entender a quem segue a meu lado de todo este mundo que enche este pequeno barco de viagens atafulhado de muitas mais gentes que possam ver e governar, com recados de quem espera numa margem, sentado, aprumado e vigiando o rumo na vontade do Tejo, deixando pensar que é Mestre quem vai ao leme.

Um submarino negro ao lado do cacilheiro levanta os passageiros que acorrem todos para o mesmo lado.
Tal como eu um rapaz à esquerda entorta o tronco, agarramos as nossas cadeiras onde estamos sentados, o barco adernou, olhamo-nos por segundos nesta perspectiva.
O Rio engole o monstro e ninguém desconfia.
 
 
in Travessias do Rio, Março 2016

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