Nesse tempo eu fazia redações e tu ensaiavas a mão nos primeiros desenhos de letras, os dois tínhamos uma imaginação sem medida mas quando a noite nos tapava e a Mãe dizia silêncio para dormirmos, logo tu vinhas com o pedido da estória. Eu gostava. Inventava. Tudo o que saía baixinho depois do era uma vez há muito, muito tempo era do correr livre e sem contenção das palavras que se formavam na minha boca como páginas que ías virando à medida da progressão da narrativa. Nunca havia fim ou pelo menos tu nunca estavas acordado para ouvir a exultação do herói ou a entrega deste no drama da sua vida pela humanidade, o sono chegava-te tranquilo e a mim deixava-me a pensar nessa gente que aparecia na minha cabeça tão repentinamente mas tão nítida como se os pudesse ver. Pela madrugada, os pesadelos vinham com os monstros sacudirem-te, a Mãe a proibir as estórias da noite enquanto te abraçava e eu estremunhada e culpada de um crime sem prova, não me lembrava mais do que havia inventado.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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