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quinta-feira, 10 de março de 2016

Estórias da noite


 
Nesse tempo eu fazia redações e tu ensaiavas a mão nos primeiros desenhos de letras, os dois tínhamos uma imaginação sem medida mas quando a noite nos tapava e a Mãe dizia silêncio para dormirmos, logo tu vinhas com o pedido da estória. Eu gostava. Inventava. Tudo o que saía baixinho depois do era uma vez há muito, muito tempo era do correr livre e sem contenção das palavras que se formavam na minha boca como páginas que ías virando à medida da progressão da narrativa. Nunca havia fim ou pelo menos tu nunca estavas acordado para ouvir a exultação do herói ou a entrega deste no drama da sua vida pela humanidade, o sono chegava-te tranquilo e a mim deixava-me a pensar nessa gente que aparecia na minha cabeça tão repentinamente mas tão nítida como se os pudesse ver. Pela madrugada, os pesadelos vinham com os monstros sacudirem-te, a Mãe a proibir as estórias da noite enquanto te abraçava e eu estremunhada e culpada de um crime sem prova, não me lembrava mais do que havia inventado.
 
 

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