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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Rasgão [num desenho]



 
Desenhei a traço curto, pontilhado, depois geometricamente imitando os cubistas, idéia que rapidamente abandonei porque flores na minha perspectiva não se colam a dimensionamentos aprisionados em arestas e precisam das imperfeições do arredondamento e da diferença de tamanhos desequilibrando o espectável para a harmonia do belo, voltei às curvas e aumentei a largueza, sombreei, dei relevo a algumas pétalas merecedoras de mais carinho e quando dei por mim, a página branca tinha no centro uma variedade intrincada de algumas espécies apenas recriadas na minha imaginação, agora atadas no plano de um bouquet a esferográfica, a conversa de telefone no tinteiro.
 
[É aqui que se abre um rasgão no tempo desenvolvendo uma acção paralela, não um renascimento mas uma Primavera como se fora tudo de 1ª mão.]
 
O braço curvado ligeiramente para segurar o ramo fresco de jarros, rosas ou orquídeas ou até um girassol afanado de um campo ou quintal vizinho a destoar na perfeição da compra da florista, seguia orgulhoso como um peso que se carrega aparentando a pluma cuidadosa que não fuja, a pressa era chegar e dispor, mergulhar os pés verdes na água fria antes que o viço - mais do meu olhar guloso - a mirar ao longe as flores, perfeitas, incólumes ao dia profano dos homens.
 
[Incapaz de fechar o meu desenho na pobreza de um parêntesis recto, enquadrei-o numa moldura vincada com muitos sublinhados.] Do outro lado da linha, despediram-se desejando-me uma boa semana.
 
 

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