A maior parte das vezes prefiro vir sozinha, caminhar sozinha, chegar até ao extremo sozinha e aí deixar-me ficar até alguém chegar sem me aperceber. Não há passos, simplesmente quando chegam já estão comigo. Ou ninguém chega e nesses dias fico a imaginar quanto tempo falta para ir embora e o que acontecerá até ser hora de partida, vejo a barriga das gaivotas muito branca e próxima da minha cabeça sem se assustarem. Os que chegam dizem pouco, religiosamente deixam o meu fumo em paz, sabem o que aprecio, põem-se ao meu lado, mãos nos bolsos ou no meu ombro e deixam-se estar, sinto-os a olharem de soslaio mas uma observação ao céu, ao Rio é o bastante para um conforto e nada mais é preciso.
Apago o cigarro, eles já se foram.
A maioria das vezes era eu a única pessoa a caminhar por aqui fora e ir até onde não havia mais caminho, só o varandim de protecção e depois o salto para uma morte certa.
Ultimamente tenho encontrado outras gentes que caminham no mesmo sentido que eu, sozinhas, até ao fundo e até encontrarem o extremo. Ficam por lá. Não sei se têm quem os acompanhe na sua curta estadia do prazer do fumo como eu, não os vejo porque não nos é permitido tal. São pedaços que chegam sem passos e apoiam a mão no ombro ou deixam-nas no bolso das calças, mas estão junto de nós.
Apago o cigarro e um outro caminhante de extremo cruza o olhar comigo, nada dizemos.
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