Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Palavras faladas


 
Era como se esboroasse uma fruta conhecida do palato mas na novidade da entrega à boca por dedos alheios, a sede se acalmasse no sumarento, o consolo no doce.
 
Bocados de texto. Era assim que os dizia, não na continuidade como haviam sido construídos como uma teia que se vai montando para a firmeza da sustentação, mas a beleza do inevitável derrube parecia exactamente residir nessas reticências da voz, falava-os e depois calava e depois seguia para outros mais adiante ou anteriores, uma ansiedade nas palavras vestidas de novos sentidos colando pontos finais onde não existiam antes.
 
Ou então era apenas a voz. A sonoridade da tinta permanente azul-china a mostrar a sua fragilidade, pequenas rachas e lascas que se abriam em sulcos mais fundos quando o tom se tornava mais cavo a dizer substantivos que ganhavam qualidade na forma como eram ditos, quase soletrados alguns no intuito de magoar o ouvido.
 
Eu ouvia. E comía as minhas palavras escritas lidas por ele, novas como se não tivessem de mim sido, uma fruta conhecida mas amadurecida em outras latitudes.

Sem comentários: