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domingo, 27 de setembro de 2015

Só para contrariar (o post imediatamente abaixo)


 
 
Por volta da uma estacionou o carro e buzinou, dois toques fortes e curtos. Alguém veio à varanda ver quem era mas não ele, ela repetiu e demorou-se um pouco num terceiro aperto ao som, sorriu sarcasticamente e pensou que alguém assomara à varanda, não ele, mas ele furioso por saber que era ela a autora. Depois saíu do carro, apertou o comando, entrou no prédio a ouvir do bip dos fechos automáticos do veículo imobilizado, viu-se no espelho do elevador, séria, rodou, saiu no 4º andar e encostou-se à ombreira da porta sem premir a campainha.
Ele abriu, sobrolho empinado, uma mão na algibeira.
- Tiveste saudades?
- Não.
- Ainda bem. Detesto angústias. Quando nos perdermos podes sentir saudades, até lá...
- A buzina. Para mim e para o prédio inteiro!
- Gostava mais que fosse para o mundo inteiro!
- Pouco faltou...
- Então será na próxima, hoje tenho a minha missão cumprida.
- Não vais entrar...
- Não. Tenho-te agora aqui, aos meus olhos, todo o mundo sabe o quanto te amo ou quase.
Ele puxou-a para si com o braço livre, encostou a boca à orelha dela.
- Na próxima não toques a buzina... Deixa-me adivinhar que chegaste.
Ela afastou-se e encarou-o.
- E os vizinhos? O mundo? Vão estranhar o silêncio.
A porta fechou-se devagar.
 
 

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