Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Parágrafos



Tarde do não querer saber, cedo do hei-de chegar, asfixia da premonição do que se deixou e que mudança alguma sofreu, são certezas, são idas, são obrigações em que a beleza se escapa entre dedos.
Há intermitências no difícil, outras artes parecem despertar olhos (mais) vivos, oxigénio que refresca limbos. Novidades. Entrecortadas. São diálogos que se perdem pela censura do traço que come a palavra proibida.
 
Ele chegou e olhou os olhos, cabeça de lado, sorriso aberto, um só beijo no rosto. Abraço. Abraço. Enlaçou os braços no tronco e sentiu o nó singelo dos dela no aperto ao seu torso. Abraço. Gosto. Depois lembrou-se que era um homem e ela uma mulher e desenlaçou-se rápido, cumprimentos, sorrisos, falou do tempo, calor e frio.
 
Falaram de palavras. As dela. As que são dela e as que sendo das mãos dela não são dela. Disse ela. E ele disse que ela podiam ser muitos se ela quisesse. Ela disse que não, que não estava na vontade dela. Ele disse que isso era um ponto de vista. Ela olhou para ele e não disse mais nada.
 
Chegada a hora do lobo esperei que este viesse desinquietar-me para me tirar da mulher que sou. Mas fui eu que acabei a chamá-lo. Talvez do tempo que caminhamos juntos ele se tenha domado a mim. Se assim for, acabarei só.
 
Hei-de procurar uma fotografia minha, com a minha face. E quando a encontrar desenho umas lágrimas junto aos olhos para me lembrar. Intermitências. Novidades.

1 comentário:

Teresa Durães disse...

Um texto lindo!
Costumo dizer que a vida são pontos de luz dispersos que parecem não ter nexo. Unidos dão uma linha imaginária, mas são as intermitências das vivências. E sim, o resto parece ser, por vezes, um corpo cansado