Sei lá o que me deu! É daquelas coisas em que nos levantamos a ter a certeza que temos de o fazer porque se não o fizermos alguma coisa vai ficar em falta na nossa vida e eu já pouco tenho a perder, entendes?! por isso meti pés a caminho, fiz-me à rua, está tudo tão diferente... mas assim que cheguei próximo veio-me aquele cheiro fechado e até de mãos esticadas e olhos cerrados eu chegaría lá por tantas vezes ter corrido aqueles passeios e desenhado a malha na cinza do asfalto, a pé-coxinho, quantas casas? e rodava e acertava no pulo de pernas afastadas sem pisar marca de giz e ágil no elástico, safava-me a alcunha de girafa...
Acho que nunca a vi tão velha, tão honesta.
Se agarrar um pedaço da fachada caída e acertar na janela alguém virá acudir-me. Alguém virá de dentro e no sorriso dirá entra, entra, há pão quente.
É esse o cheiro fechado na minha memória, não são bolorentos os momentos só porque os outros a veem velha e esboroada de beleza e na vidraça o pó dos anos risca teias desabitadas sem braços nem peitos nem vozes que se estendem a chamar por nós, a janela abre-me a casa, um coração mais que uma porta porque é dela que lembro o som do meu nome a pedir para entrar e subir.
Mastigo lágrimas, engulo saudades. Não me fazem mal, sei lá o que me deu...
(Portas & Janelas, Agosto-2013)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
(Portas & Janelas, Agosto-2013)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
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