À medida que vou andando ao contrário do Sol apercebo-me da minha cegueira. Há tanto a descobrir nas coisas que ficaram para trás, consigo agora a esta distância entender-me lá onde fiquei, no pátio a andar de bicicleta e de joelhos esfolados ou a mão na barra, trémula de varadas nas pernas hirtas sob o olhar negro de Madame ou o choro imparável pelo silêncio que a morte varre quando me levou quem eu amo.
À medida que caminho e penduro o Sol nas costas apercebo-me de novas cores mesmo de olhos fechados, o cheiro intenso de um Tejo baixo, o sabor de uma voz que se destaca no ruído daqueles que ombreiam anos a fio sem lhes sabermos do gostar, do desgostar. Ando pesada de tanta recolha que tenho feito, não desperdiço nada, tenho receio de me esquecer de tudo, de nada, de como era e agora ando.
À medida que o Sol baixa estudo a lição, encavalito a noite no amanhã e um dia, espero, havemos de bater de frente.
5 comentários:
Querida Gasolina
Ahhh o eterno Tejo sempre presente no teu pensar...
,,,e a tua imagem sempre reflectida nas suas doces águas para ser admirada por quem sabe ver...
Beijinhos.
Escreves tão bem... (também vale para o bater 1, 2 e 3, não falndo claro de toda a árvore e da flor).
É bom ler-te, obrigada.
Um beijo
marisa
As recordações da infância "boas ou más" são as que ocupam o lugar privilegiado no nosso cérebro, à medida que o tempo passa alimentamo-nos delas. A saudade de quem amamos...a mágoa de quem não nos cuidou das feridas.
É preciso acreditar, voltarmo-nos de frente para o sol na esperança que ele nos traga algo de bom. Bjs!
Acima de tudo, a palavra, o som, o quadro… a poesia… Parabens!
Tejo também é nome de cão e por ele nunca passa duas vezes a mesma pulga no mesmo sítio. O Sol é um gato empoleirado numa árvore com a mania de que é esperto.
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