Seguiu a formiga laboriosa pelas rugas do tronco, acompanhou-a com o dedo até se deter nos nós. Depois cheirou a casca, as folhas verdes, o ar. Deixou que os sentidos se fossem na brisa, sentou-se, encostou-se à árvore, fechou os olhos, abriu o livro e leu para si.
Seguiu as linhas do caderno endireitando a caligrafia, aparou vírgulas e travessões, preparou o discurso directo na ponta do lápis. Deixou que os sentidos se colassem no papel, personagens sentados sob copas de árvore confessando fraquezas, fechou os olhos, dois pontos, escreveu para si.
Seguiu as vontades de homens e mulheres, páginas folheadas entre cidades e quartos de pensão, acompanhou-os no primeiro grito, tapou-lhes o rosto na despedida. Deixou que os sentidos de outros se repetissem nos seus e os seus emprestou-os a alguns, fechou o livro, abriu os olhos e tudo quanto era redor tornou-se estória de contar ou de escrever.
1 comentário:
Assim se fazem as estórias com passagens de uns e de outros:)
BF
Enviar um comentário