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terça-feira, 30 de março de 2010

A leitora

Muito para além do ouvir dizer sentía satisfação quando lía os recados curtos que lhe deixava. Nada de elaborado, muitas abreviaturas, pontos de exclamação imparáveis mas rico, pleno, grandioso quando as lambía nos olhos e para dentro emprestava a sonoridade que lhe quería escutar. Demorava-se em cada palavra, antes atafulhara-se nelas sem sentido, na correría de descobrir segredos revelados. Que nunca chegaram. Mas isso nunca descobriu. Não tinha importância, o que era bom eram aquelas notas escondidas à espera dela, só dela, porque se convencera que todos os bilhetes a si deixados eram a si pela primeira vez, e depois dela, nunca mais haveríam recados, exclamações a fazê-la adivinhar o que ele quería dizer. Sem dizer. Sem lhe dizer à boca e aos olhos e ao coração, que na presença trocava monossílabos, gargalhadinhas, piadas entoadas de outros tempos. No papel era sempre diferente, mágico. Ela sabía. Ela lía e sabía. Como uma boa interprete.

2 comentários:

Alien8 disse...

Mágico é este texto. Isso sei. Não estou certo de o compreender totalmente, mas vou tentar chegar aos "segredos revelados. Que nunca chegaram".

BF disse...

Porque é fácil pensar que foi escrito só para nós :)