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quinta-feira, 25 de março de 2010

Papel branco com homem ao fundo

Havía vento. Desgrenhava-o mas nada que o incomodasse, mesmo que os olhos se fechassem na defesa dos grãos que leves, um dia teríam sido penedo.

Nesse alto havía vento e havía um homem que olhava o nada a que se chama infinito. Ali. Tão perto o nada, tão tangível pelos olhos cerrados à força do que não se vê. O vento.

Havía frio mas não tremía, não se vê o frio, não se vê o vento, não se veem os pensamentos do homem despenteado que olha o longe tão próximo, tão leve, tão grande.

Dobrou o papel pela metade, escondeu-o no bolso, misturou-o entre chaves, um palito, um lenço de assoar, o lápis na mão por afiar.

Não desenhou nada. Recolhera todos os nadas na folha branca e sentía-se obreiro.

Afastou-se do vento, do frio, compôs o cabelo, bateu os pés, entrou em casa.


- E o desenho?

- Nada, estava muito vento, levou-me a folha.






(in Telas, C.G. Nov/2005)

3 comentários:

Alien8 disse...

Gasolina,

É assim que se constroem os desenhos futuros. Digo eu, que nem um risco direito sei fazer :)

Gasolina disse...

Alien8,

É???

Não sei.
E olha que eu até nem desenho mal.

BF disse...

Um desenho na memória

BF