Havía vento. Desgrenhava-o mas nada que o incomodasse, mesmo que os olhos se fechassem na defesa dos grãos que leves, um dia teríam sido penedo.
Nesse alto havía vento e havía um homem que olhava o nada a que se chama infinito. Ali. Tão perto o nada, tão tangível pelos olhos cerrados à força do que não se vê. O vento.
Havía frio mas não tremía, não se vê o frio, não se vê o vento, não se veem os pensamentos do homem despenteado que olha o longe tão próximo, tão leve, tão grande.
Dobrou o papel pela metade, escondeu-o no bolso, misturou-o entre chaves, um palito, um lenço de assoar, o lápis na mão por afiar.
Não desenhou nada. Recolhera todos os nadas na folha branca e sentía-se obreiro.
Afastou-se do vento, do frio, compôs o cabelo, bateu os pés, entrou em casa.
- E o desenho?
- Nada, estava muito vento, levou-me a folha.
(in Telas, C.G. Nov/2005)
3 comentários:
Gasolina,
É assim que se constroem os desenhos futuros. Digo eu, que nem um risco direito sei fazer :)
Alien8,
É???
Não sei.
E olha que eu até nem desenho mal.
Um desenho na memória
BF
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