Se aqui foram tantas as vezes que te lembrei também pode servir de lugar de esquecer.
Agora... Só preciso de saber como é que isso se faz pois por mais exercicios que arranje para te tirar dos meus dias mais eles ficam ocupados contigo e todos os pequenos pormenores que eu julgava não terem acontecido cospem-me a direito.
Achei que se escrevesse sobre recordar e apagar e depois riscasse com força por cima todas as palavras já escritas este mal estar ía-se. Entranha-se. Por cada palavra o equivalente a uma moeda que se enfia numa ranhura e debita um som ou um boneco ou um petisco e lá sais tu a sorrir, a cantarolar ou a falar com a ajuda das mãos num emaranhado de fios invisiveis.
Chega o meu café, o meu sumo, tudo igual ao café e ao sumo que tomámos juntos, porém outros suaram para arrancar as bagas e estas laranjas são de outro sol. Marco a chávena e o copo com as impressões labiais, talvez as tenhas levado também marcadas em ti e quem sabe no próximo café, no gole do sumo te lembres. Mas só nesse gesto porque já terás esquecido.
Não escrevo nem risco mais.
O empregado recebe o meu dinheiro, agarra na caneta e desenha um grande sorriso ao lado dos riscos. Deixo as folhas na mesa.
(in Eu na Versailles, escritos improváveis, C.G.- Nov/2005)
4 comentários:
As folhas? Não as teria deixado sobre a mesa... Mãos e entranhas, eu as amassaria. Lentamente. Ato contínuo, saídas de mim, reduzidas a nada, jazeriam ignoradas, insignificantes em algum canto.
Seria esse o destino de quaisquer inconvenientes recordares e esqueceres que se atrevessem a embaçar-me as manhãs.
Exercício doloroso do tudo ou nada? Mas vale desvencilhar-me à depuração.
Beijocas.
Tia Selma,
Mais amarfanhada que eu estava folha alguma despedaçada o conseguiría...
E concordo contigo. É bem melhor cortar o mal pela raíz.
Mas da teoria à pratica... Pois é.
Beijo a ti Selma.
Pelo vento forte chega aí rápido.
Querida Gasolina
Sempre cruzamos veredas, tantas vezes tenho escrito isso e já te disse de voz viva, e agora não é excepção...
Li agora o que gostaria de ter sabido escrever para traduzir o que sinto neste momento...
E a lágrima rolou mesmo sem eu querer...
Beijinho.
Vicktor,
É verdade. E já constatámos que os caminhos por onde passamos se cruzam e de uma forma tão peculiar que daría um argumento e peras para um filme!
Não te quero triste, qu'é lá isso?!
Abraço-te, forte, forte.
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