Doíam-lhe os pés, sapatos novos ainda um pouco duros à espera dos vincos dos caminhos por fazer, saltos demasiado empinados para que o mundo lhe parecesse tombado sob a sua vontade, um cheiro de estreia por não saber de prazos de regresso.
Ou não o querer saber, não se importar com o que largava nas costas, uma cauda demasiado longa e pesada que de rojo trazía pedras e lixo, separava-se dela heroicamente como se havía desfeito dos sapatos velhos ensinados na rotina do ir e voltar.
Desta vez não, é só ida, leve e incerta no rumo, de guias só a certeza do querer e do precisar, interromper-se enquanto há tempo e vontade de estreiar sapatos novos sem vicios e sem calos, sentir a fricção do inesperado a roçar uma quase dor para depois se moldar numa forma aconchegada e protectora.
Doíam-lhe os pés de conhecer o trajecto de olhos fechados.
Doíam-lhe os pés da memória.
7 comentários:
Gostei bastante. "Doíam-lhe os pés da memória".
Bj
Olá gasolina
Tudo normal, comprar sapatos e enquanto não se adaptam ao pé, darem algum sofrimento.
Normal doer os pés da memória. Porém a dor é incomparavelmente, mais sofrida.
Um abraço
Daniel
Nos pés cansados remoça o caminho com uns simples escarpins à la mode... qual trecho de vida onde a memória amputa os vícios sentidos.
Bem escrito como é teu apanágio.
Bj.
ESTES NÃO SÃO ITALIANOS, MAS NÃO MENOS BELOS E FANTASIOSOS... APESAR DE AINDA NÃO ACONCHEGAREM O PÉ...
"DOEREM OS PÉS DA MEMÓRIA" É FRASE DE BAILARINA... DE PÉ(S) E DE PALAVRA(S)!
DEIXO A PEGADA DE UM BEIJO...
Sapatos em pés doridos sem força para impedirem o espírito de andarilhar.
Beijinhos.
tento afastar-me do cais de embarque
não sou eu que parto e regresso ao destino
as memórias ficarão para sempre presentes nos passos
nos dados no parque, num passeio de rua
tento afastar-me das lembranças que me não largam
o comboio ainda voltou, mas partiu de novo
Voyage, voyage...nem que seja de pés descalços.
bj
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