Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Sapatos novos


Doíam-lhe os pés, sapatos novos ainda um pouco duros à espera dos vincos dos caminhos por fazer, saltos demasiado empinados para que o mundo lhe parecesse tombado sob a sua vontade, um cheiro de estreia por não saber de prazos de regresso.
Ou não o querer saber, não se importar com o que largava nas costas, uma cauda demasiado longa e pesada que de rojo trazía pedras e lixo, separava-se dela heroicamente como se havía desfeito dos sapatos velhos ensinados na rotina do ir e voltar.
Desta vez não, é só ida, leve e incerta no rumo, de guias só a certeza do querer e do precisar, interromper-se enquanto há tempo e vontade de estreiar sapatos novos sem vicios e sem calos, sentir a fricção do inesperado a roçar uma quase dor para depois se moldar numa forma aconchegada e protectora.
Doíam-lhe os pés de conhecer o trajecto de olhos fechados.
Doíam-lhe os pés da memória.

7 comentários:

Anónimo disse...

Gostei bastante. "Doíam-lhe os pés da memória".
Bj

Daniel disse...

Olá gasolina

Tudo normal, comprar sapatos e enquanto não se adaptam ao pé, darem algum sofrimento.
Normal doer os pés da memória. Porém a dor é incomparavelmente, mais sofrida.

Um abraço
Daniel

Mateso disse...

Nos pés cansados remoça o caminho com uns simples escarpins à la mode... qual trecho de vida onde a memória amputa os vícios sentidos.
Bem escrito como é teu apanágio.
Bj.

ASPÁSIA disse...

ESTES NÃO SÃO ITALIANOS, MAS NÃO MENOS BELOS E FANTASIOSOS... APESAR DE AINDA NÃO ACONCHEGAREM O PÉ...
"DOEREM OS PÉS DA MEMÓRIA" É FRASE DE BAILARINA... DE PÉ(S) E DE PALAVRA(S)!

DEIXO A PEGADA DE UM BEIJO...

tchi disse...

Sapatos em pés doridos sem força para impedirem o espírito de andarilhar.

Beijinhos.

pin gente disse...

tento afastar-me do cais de embarque
não sou eu que parto e regresso ao destino
as memórias ficarão para sempre presentes nos passos
nos dados no parque, num passeio de rua
tento afastar-me das lembranças que me não largam
o comboio ainda voltou, mas partiu de novo

Abssinto disse...

Voyage, voyage...nem que seja de pés descalços.

bj