Mês dois.
Carrego aos ombros o peso da subida no ludibrio de achar que avanço. É um caminho de um só sentido, a novidade já foi, acabou-se aos primeiros dias quando achei que tudo sería diferente e por outro lado não fiz promessas, não me enganei na diferença, sabía-o de outros anos. Talvez me esqueça de quando em vez...
Mas agora que aqui cheguei repito-me nos passos da queda, da descida vertiginosa do tempo e da erosão: seguro-me, desfaço nas mãos um amparo que se esboroa mal o toco, degraus que rangem sob o peso da repetição, sei para onde vou não sei o que vou encontrar.
Melhor assim. Se o soubesse tentaría o recuo, ganharía impulso e saltaría ágil um ou outro mês, porém este é apenas o segundo, um patamar mal alumiado onde tacteio paredes rugosas e evito a todo o custo esfolar-me, o pé provando chão, tentando arranjar olhos quando cega piso.
Mês dois e tanto degrau para tropeçar.
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(in Calendários, C.G.-Fev/2008)
10 comentários:
Este ano até são 29 degraus.
bjks
de novo três delícias em forma de texto. deste gosto em especial: do tom melancólico que envolve o avanço no tempo tornado visível com uma metáfora fantástica.
um beijo
marisa, menos silenciosa...
Querida Gasolina
É assim o tempo que passa...
Tem a dimensão exacta do nosso sentir... embora caminhe sem cessar, sem que qualquer facto o faça parar...
Por isso gosto muito do relógio do British Bar, no Cais do Sodré...
Beijinhos.
Papagueno,
Pois são, uma estafadeira!
:~D
E cada vez pesa mais subir esta escadaria...
Beijinhos!
Marisa,
É sempre um prazer saber-te na Árvore.
Mais viçosa quando dizes que gostaste... obrigado.
O tom melancólico é o desfolhar do tempo, inevitável, estação após estação...
Beijinho para ti.
PS.: Seja em pés de lã seja a deixar marcas: gosto de te sentir aqui.
Victor,
Pois é.
Mas o tempo devía esticar um pouco mais para se poder fazer mais coisas, ver mais cores, sentir mais aromas, amar mais tempo.
Hum... Esse relógio conheço-o sim e gosto muito dele, assim como do bar.
Beijinhos
Tanto degrau para subir, também.Mesmo que imperceptivelmente.
Lamia,
Quanta honra ter-te na Árvore.
É verdade, tanto degrau a subir, cansados lá mais para o meio do ano surge o patamar, férias, tomar folego e atirarmo-nos ao resto da escadaria do tempo.
Muito bom o teu regresso.
Os degraus do sentir.. uns leves, outros mais íngremes ,e outros ainda aos tropeções. Todos, mas todos perfazem a escada da vida que teimamos ora em subir ora em descer.
Bj.
Mateso,
Uma escada por vezes mal formada nos seus degraus e nós aos tropeções, no escuro, pés e mãos a tentar galgar.
Um beijinho
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