Entre margens não há fim. Troco hoje as águas pela dureza do asfalto, os olhos azuis do marinheiro que me alcança a mão pelos suspiros profundos do companheiro de viagem que se senta a meu lado.
Olho lá para baixo, o rio acinzenta-se pela minha traição e engole a faixa de sol que nasce no horizonte encarniçado atirando-me para a monotonia de uma estrada a direito sem sobressalto nem diversão.
Arrependo-me, desejo estar sobre ele deitada no marulhar embalado que desperta o meu dia, encaixar-me nas águas como um amante dedicado na vontade de fazer-me atingir o outro lado, que aqui escrevo sobre os joelhos e sei o que encontro no fim da linha.
Nem uma única gaivota a dar-me os bons dias, só o sossego empacotado do homem sentado a meu lado a tentar decifrar os meus garatujos.
Apetece-me perguntar-lhe se ele viu o meu amor, se sabe quem é o Tejo.
(in Crónicas do Tejo, C.G. 21/02/2008)
8 comentários:
Lindíssima esta prosa poética! Gosto da personificação.
O Tejo sentiu também a tua falta, de certeza.
Bom fim de semana, por aí, perto do Tejo, o meu é por aqui, perto do Reno.
bj
marisa
Apetece-me perguntar-lhe se sabe a imponência das águas sempre que desagua no mar.
Bisous
Marisa,
Sonho que sim, encanto-me em mil histórias que assim me tenha sentido.
Obrigado.
A esta altura desejo-te uma semana calma e com sol.
Um beijo, Pézinhos de Lã
M.,
Acho que ele sabe.
Mas este Tejo é mesmo assim: só se revela a quem merece. Outros nem dão conta dele.
Beijo(s)
Deliciosa crónica em jeito de poema, ou vice versa.
DEPOIS DESSA PEQUENA TRAIÇÃO... QUEM SABE O REENCONTRO NÃO FOI MAIS APRECIADO?
BEIJO DA MARGEM DIREITA
Abssinto,
Obrigado.
Mas a culpa é do rio.
Beijo para ti
ASPÁSIA,
RETORNAR AO TEJO É COMO FAZÊ-LO COMO DEBUTANTE, ISSO GARANTO EU.
SEMPRE NOVO, SEMPRE SURPREENDENTE.
MAS FOI IGUALMENTE BOM VÊ-LO SOB OUTRO ÂNGULO. GOSTO DE MUDAR AS PERSPECTIVAS, EVITO A ROTINA.
BEIJO DA MARGEM ESQUERDA PARA A JARDINEIRA DA PENHA
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