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quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Cronicas do Tejo (X)

O rio negro vai cheio.

As duas margens iluminadas a pérolas artificiais demarcam a fronteira do norte e do sul.

O elevador de Olho-de-Boi eleva-se majestoso escarpa acima, guiando o olhar através da escuridão e do miradouro onde algures adivinho a Casa da Cerca.

Lembro piqueniques, não sei bem porquê... cestas cheias de alegria e sanduíches, gritos, uma bola, um panamá de elástico, croquetes, o meu nome chamado numa entoada que ecoa até agora...

Cheira a humidade, cheira a humanidade.

As primeiras tosses e espirros acordam o viajante atordoado pelo embalar, que incauto deixa caír o guarda-chuva. Pede desculpas baixando a cabeça, fala num plural indeterminado como se ali fosse lugar de dormir e ninguém devesse perturbar este nocturno de sono corrido e aproveitado em qualquer encosto onde se senta nas próximas horas.

Não fecho os olhos, vejo Lisboa, envernizada e de telhados brilhantes e luzidios.

Alma lavada de Lisboa, colinas molhadas, luzes amarelas.

Entro nesta margem escudada como um bicho-de-conta.

Se me tocarem acciono a carapaça e enrolo-me sobre mim: é que trago segredos do outro lado.


(in Crónicas do Tejo, C.G.-17/10/2005)

14 comentários:

poetaeusou . . . disse...

*
e o tejo,
continua novo,
,
conchinhas
,
*

Eunice Rosado disse...

Por favor passem no meu cantinho. Encontrei uma cadela perdida e preciso muito da vossa ajuda!!!!!

Nice

Joanne disse...

"é que trago segredos do outro lado."
Muito bonito!

Mateso disse...

Os tempos do ontem em fechaduras da alma.
Lindo.
Bj.

AC disse...

Mas se o que pretendo é que te desenroles mais, sempre mais, que nos inundes de segredos teus, da tua Arte.

Beijo imenso deste seu admirador que não lhe toca, esmaga-a!

Laura Ferreira disse...

... e eu vejo lisboa, ainda adormecida, a espreguiçar-se com ar de menina e abrir só um olho cinzento mas cheio de luz...

Vicktor Reis disse...

Querida Gasolina
O Tejo é um eterno confidente de anseios, de quereres e de sentires.
Dás conta disso de uma forma maravilhosa.
Beijinhos.

Gasolina disse...

PoetaEuSou,

Sempre, todos os dias, todos os olhares.

BEI/de MARÉ

Gasolina disse...

NIce,

Esperemos agora que se passe da teoria à prática.
É assistir para crer.

Beijinho, Linda Nice

Gasolina disse...

Joanne,

És visita nova.
E já chegas na crónica X do Tejo...

Obrigado, volta quando tiveres vontade.

Gasolina disse...

Mateso,

Que são as mais fortes, as mais indestrutíveis.

Beijinho para ti, em Azul.

Gasolina disse...

Dias,

Como posso eu desenrolar-me e desvendar-me?
(olha a freguesia a fugir... :~D)

Já uma vez me esmagou... recorda-se do que aconteceu? eu refresco-lhe a memória: fiz-me em sumo.

Um beijo

Gasolina disse...

Laura,

Belissíma imagem essa da Cidade a espreguiçar-se.

Mas quando a avisto da minha margem, ela dorme ainda a sono alto.

Fica bem

Gasolina disse...

Victor,

Que sería de mim sem o Tejo, sem o mar, sem a chuva?
Outra eu sería, decerto. Mas menos feliz.

Um beijo para ti