As duas margens iluminadas a pérolas artificiais demarcam a fronteira do norte e do sul.
O elevador de Olho-de-Boi eleva-se majestoso escarpa acima, guiando o olhar através da escuridão e do miradouro onde algures adivinho a Casa da Cerca.
Lembro piqueniques, não sei bem porquê... cestas cheias de alegria e sanduíches, gritos, uma bola, um panamá de elástico, croquetes, o meu nome chamado numa entoada que ecoa até agora...
Cheira a humidade, cheira a humanidade.
As primeiras tosses e espirros acordam o viajante atordoado pelo embalar, que incauto deixa caír o guarda-chuva. Pede desculpas baixando a cabeça, fala num plural indeterminado como se ali fosse lugar de dormir e ninguém devesse perturbar este nocturno de sono corrido e aproveitado em qualquer encosto onde se senta nas próximas horas.
Não fecho os olhos, vejo Lisboa, envernizada e de telhados brilhantes e luzidios.
Alma lavada de Lisboa, colinas molhadas, luzes amarelas.
Entro nesta margem escudada como um bicho-de-conta.
Se me tocarem acciono a carapaça e enrolo-me sobre mim: é que trago segredos do outro lado.
(in Crónicas do Tejo, C.G.-17/10/2005)
14 comentários:
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e o tejo,
continua novo,
,
conchinhas
,
*
Por favor passem no meu cantinho. Encontrei uma cadela perdida e preciso muito da vossa ajuda!!!!!
Nice
"é que trago segredos do outro lado."
Muito bonito!
Os tempos do ontem em fechaduras da alma.
Lindo.
Bj.
Mas se o que pretendo é que te desenroles mais, sempre mais, que nos inundes de segredos teus, da tua Arte.
Beijo imenso deste seu admirador que não lhe toca, esmaga-a!
... e eu vejo lisboa, ainda adormecida, a espreguiçar-se com ar de menina e abrir só um olho cinzento mas cheio de luz...
Querida Gasolina
O Tejo é um eterno confidente de anseios, de quereres e de sentires.
Dás conta disso de uma forma maravilhosa.
Beijinhos.
PoetaEuSou,
Sempre, todos os dias, todos os olhares.
BEI/de MARÉ
NIce,
Esperemos agora que se passe da teoria à prática.
É assistir para crer.
Beijinho, Linda Nice
Joanne,
És visita nova.
E já chegas na crónica X do Tejo...
Obrigado, volta quando tiveres vontade.
Mateso,
Que são as mais fortes, as mais indestrutíveis.
Beijinho para ti, em Azul.
Dias,
Como posso eu desenrolar-me e desvendar-me?
(olha a freguesia a fugir... :~D)
Já uma vez me esmagou... recorda-se do que aconteceu? eu refresco-lhe a memória: fiz-me em sumo.
Um beijo
Laura,
Belissíma imagem essa da Cidade a espreguiçar-se.
Mas quando a avisto da minha margem, ela dorme ainda a sono alto.
Fica bem
Victor,
Que sería de mim sem o Tejo, sem o mar, sem a chuva?
Outra eu sería, decerto. Mas menos feliz.
Um beijo para ti
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