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terça-feira, 3 de maio de 2016

Travessias do Rio - 11


 
Não é um barco, é um rectângulo de plástico em tons de mimetizado azul para não incomodar tanto o meu Rio. Perturba-me entrar-lhe, sufoca-me o instante em que me põe do outro lado, mantém-me prisioneira quando baixa a rampa que lhe serve de porta e me lembra um castelo.
O catamaran que atirou com o Cacilheiro para o lado, tem vindo a levar-me e a trazer-me de mansinho, um ápice de desagrado alcatifado com as suas janelas quadradas muito perfeitas que não são de abrir, múltiplas filas de cadeiras que convidam à clientela a assistir a uma fita de cinema viva e renovada todos os dias, mas a que só se alcança meio céu, meia água, tudo o que a vista tem diante do nariz e olha lá.
Vejo-os contentes. Rápido. Moderno. Quase clinico.
 
Como me apetecia a garridez da pintura laranja vezes sem conta retocada a esconder a ferrugem dos anos e o engasgo do motor no ronco da madeira guinchada quando o cabo se esfrega esticado preso aos cais. E os Cacilheiros de dois andares, com prancha tirada à mão, e as travessias turbulentas em que o hóspede se entrelaçava à cadeira precavendo borda-fora...
 
Não é um barco, são estórias que me conto em 7 minutos.
 
 

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