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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Sem titulo



Levantou-lhe as pálpebras com os dedos e perguntou se dormia. Sim, dormia, que a deixassem sossegada e virou as costas ao tecto ignorando perguntas, dedos pelos olhos adentro rompendo sonhos que não tinha, intrusos no quarto sem permissão de se chegarem tão próximo e ainda por cima esquecidos do silêncio obrigatório no despertar. Não há conversa, não se quer conversa, os monossílabos são um sacrifício na hora cinzenta, cinzento escuríssimo que a vontade de abrir a boca é só para dar vazão ao bocejo. Já não dorme, o fingimento da cabeça enterrada na almofada descobre perguntas e aborrecimento [não não durmo que queres e quem és tu vai-te embora] como um refluxo, sem ruídos ao redor mal ousa saír da casca improvisada mas o sono esvaiu-se por um buraco invisível da fronha ou então nalgum furo que os dedos abriram escapado na pele que cobre os olhos. Nos cotovelos espreita o cenário, empina o traseiro espreguiçando a vontade de deixar a noite e de joelhos, mãos ao quadril sustém um suspiro de contrariedade [quando é que vou ser dona de mim], erguendo-se então à vertical para num salto mergulhar nas páginas brancas de um caderno muito usado.

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