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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Memória sabática (3 - Preparativos)



Neste primeiro estava tudo tratado, tudo comprado com cheiro de novo, indiscritíveis cheiros como um narcótico que vergavam a mente e me puxavam obsessiva toda a minha atenção para os cadernos, lápis, o colorido dos livros de lombada muito dura, a borracha inteira de cantos suaves, as canetas, tudo deitado na caixa de madeira com lingueta escorregadia. E a pasta. A pasta que haveria de acompanhar anos fora até escurecer o couro e esfolar-se nos rebordos, alças penduradas aos ombros ou no arrasto da desmoralização da nota pequena da prova de aritmética que escondia guardada entre sapatilhas ou frascos com joaninhas.
A bata branca de abotoar nas costas.
A impedir desejos de liberdade aos braços pequenos, às mãos pequenas de chegar rápido às casas e saír desse domínio.
Mas também os adoráveis sapatos de pala azuis escuros, tão azuis que pareciam roxos, a condizer com os joelhos e as canelas e uma ou outra manhã, na alma quando a mãe me haveria de deixar à porta da escola a dizer porta-te bem que agora já és crescida.

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