Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

domingo, 11 de outubro de 2015

A morte da bezerra



Era nada. Um abstracto contínuo numa linha invisível, uma ausência total num corpo presente. Chamavam e ninguém para atender. Nem mesmo uma alma colada ao tecto a observar-se cá para baixo, inerte como um saco vazio depois de se ter ido às compras e tudo arrumado em  prateleiras. Eu estava una. Simplesmente não estava para ninguém. Só para mim, era o nada dos outros, diziam que estava a pensar na morte da bezerra. Pobre bicho. Nem ele nem eu mortos, ele porque nada sei e eu porque vivíssima de latejante nem conseguia atingir a pouca de vida que se fazia por cá. Aparentemente os universos apartavam-se e carne mais essência de mim transpunham fronteira para um lado paralelo, oculto mas tão perfeito e belo que a vontade era não regressar. De uma forma ou outra, sempre arranjaram maneira de me puxar por um braço e arrastarem para o que me diziam realidade, acordar.
Hoje voltei lá. Passado tanto tempo sem atravessar este território não foi preciso identificação, passaporte, não houve estranheza de minha parte por alguma mudança súbita ou desgosto por lembrança das memórias de anos passados. Tudo se mantém intocável como da última viagem que lá fiz, imaculado lugar onde só o próprio atinge e onde só este convida quem quer. 
Mas a grande surpresa é que desta vez ninguém me trouxe de volta, fiz eu o caminho inverso por ter vontade, por ter estado o tempo que me precisei comigo. E a bezerra lá, luzidia num pasto de olhos mansos entre o verde espevitado no branco dos malmequeres quando tranquila me aproximei e no afago do lombo lhe disse até à próxima.
 
 

Sem comentários: