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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Tectos




Branco. Branco e quadrado. Podía escrever nesta folha imensa, braço esticado, aproveitar todos os ângulos na perspectiva de que as letras ficassem coladas e sem me tombar pelo peito, pescoço, bater com força na cara ou entrarem de novo pelas goelas, sufocarem-me na confusão de outras quererem saír, estas a regressar a casa. Não sei quem ganharia, mas eu no instinto primário da luta pela vida, haveria de tossir, cuspir o excesso, procurar um fio que fosse para respirar, letras mortas à minha volta cristalizadas pela falta de oxigénio que canalizei só para mim. Branco, uma folha imensa onde indelevelmente se escrevem frases sobre frases, camadas que protegem as anteriores sem tempo datado, podía cristalizar o tempo na falta de oxigénio das memórias.
Fecho os olhos.
Todo o tecto se derruba pelo peso das páginas cheias atingindo-me nas noites e nos dias em que perspectiva era um plano onde eu assentava tinta azul-china para me salvar.

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