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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Pedidos



Disponho-te na minha frente. Dou-me a essa permissão dando-te autorização para estares, esse verbo de ser só tem condição enquanto a existência da tinta espera o meu pedido, o empregado ocupado de um lado para o outro faz-me sinais que entendo ter-me visto, virá, não sei quando, é mais do que aquilo a que te destino, hoje dou-te falas quando rasgar um travessão para diálogos e sinceramente não sei se é esse o meu apetite. Sabes como gosto de paladares fortes, mas não deves responder , é tudo retórica, apenas sentado é o bastante, talvez demais, talvez um estorvo, talvez o empregado já tivesse abreviado a sua aproximação se não estivesses.
 
Olho para ti.
Não sei que te achei. Que me achaste para eu te achar, vejo-te tão pequeno, de olhos míopes, testa curta e mãos desajeitadas que me desconheço. Afasto-te, os meus olhos arrastam a tua cadeira para o fundo ermo da sala, tão lá longe que já nem pertence aqui, mas ainda te avisto, é preciso que te mantenha sob mira para que saibas quão diminuto te escrevo. Não há travessões, essas pontes que se traçam para respirar dizem palavras de apertar ou de acenos, tu não agarras nem uma nem outras.
 
Finalmente, o empregado.
Não chego a fazer o pedido. Traz o meu café duplo. Como eu gosto.



(in Eu na Versailles, escritos improváveis, C.G.- Dez/2005)

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