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sábado, 25 de julho de 2015

O tempo do silêncio

 
 
Quem procura acha, mas a verdade é que quem não procura também encontra. Nada intencional, estiquei os elásticos à pasta castanha quase a estourar [que raio é isto, não me lembro desta pasta], o sobrolho decerto a enrugar-se pela interrogação e ainda mais carregado quando a sonoridade da resposta atravessou costas, peito, ecoou paredes e me socou na cara:
 
- Papéis teus, coisas escritas por ti, sabías disso não sabías?
 
Não minto, não vou dizer nada, vou fazer de conta que já estou absorvida no interior da descoberta sem ser uma surpresa, claro que sabía não me lembrando de nada, escondo o nariz nos cabelos e deixo que o tempo desanuvie o tempo de responder, esquecer por esquecer será o da resposta que o meu é um vazio total, levanto folhas e leio algumas frases, não sei o que é, não reconheço nada para além da cor habitual com que escrevo mas desmaiada pela absorvência do papel e do escuro do segredo guardado [haveria de ser segredo, pois então! e tão bem arrecadado que nem mesmo eu o sabía!], as letras desenhadas na forma do costume.
Leio, leio, nas mãos sinto as palavras a falarem.
 
A pergunta não foi repetida. Não minto.
 
- Isto não é meu. Foi-me deixado, mas não é meu.
 
[O tempo do silêncio crava-se no tecto e deixa manchas de bolor, temo que o candeeiro que ele tanto gosta caia, mais que mil pedaços de vidro muito fino, irreparável.] O que nos olhamos é o que encontramos, ele sabe.

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