Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

sábado, 11 de julho de 2015

Cartas de família


 
De quando em vez pega-se-me às mãos. Não é inocente. Deixo-a numa gaveta do louceiro da cozinha. É bom lugar, é nutritiva, é de encher o estômago e forrar o peito, embora não tenha as duas folhas cobertas de palavras tem as tantas que me satisfaz na boca, plena, saborosa, honesta e de um gosto familiar que só a ela encontro. Guardo-a no envelope já manchado do tempo e de muito manusear, outras mãos a pegaram e rasgaram o papel sem cuidados no pensar em mim, bocadinhos que faltam, ainda o selo azul meio descolado a piscar o olho que eu insisto em calcar como se o envio fosse hoje importante, encaminho-me, destino dos anos, de casas, de cidades, viajo pela cozinha em cada argola de letra desenhada e nessa refeição de amor que tomo apaziguo todas as fomes que sinto.

Sem comentários: