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domingo, 24 de maio de 2015

Se puderes...




Escreve. Diz qualquer coisa banal, uma linha que seja com uma frase tonta, parva, só para manchar a folha e dar trabalho a pensar ao carteiro que se desabituou destas lides de entrega de cartas escritas à mão.
 
Lembrei-me de há quanto tempo não recebo uma carta. E de ti. Logo de ti quando nunca a poderia receber que sei quantas escreveste, uma porção delas para mim dentro de envelopes com outras que não eram para mim, muito secretas, adultas, cheias de palavras de amor e saudades e coisas difíceis de como passavas e eu não entendia,  só sabía que estavas longe e não chegavas. E vinha a tua carta dobrada de forma especial num papel fininho a pedir para eu me portar bem, e eu sorría e pingava lágrimas grossas que me deixavam ver mal a tua letra perfeita. Lía vezes sem conta, sozinha, como se fossem segredos tantos sugados da carta maior onde se fazia acompanhar, um egoísmo que eu guardava junto ao peito até enxugar o choro silencioso.
 
Há tanto tempo que não recebo cartas de ninguém. Segredos dentro de envelopes colados com saliva e selos rendilhados no amachucado de um timbre circular com data a meio desaparecida. Se puderes diz que estás bem, mando-te um beijo.

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