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sexta-feira, 22 de maio de 2015

O bater do coração (vinte e seis)



 
Acontece que também deixa de bater para poder bater de novo, fazer-se de morto ou melhor, fazer-se de chumbo para inviolável e resistente, não se magoar mais às pancadas que lhe sacodem o ritmo, seja compassado na paisagem boa seja descompassadamente no beijo inesperado que saca o fôlego, também bom e outro mau quando é a despedida.
 
Ainda assim causas bastante para bater. Pancadas justificadas pelo sentir da vida.
Venham todas, queiram-se, para se morder a diferença da felicidade e do outro tempo em que olhos lançados para um adiante que ninguém sabe onde para se murmurar quando eu era feliz, que era sempre dantes, nunca agora, sempre muito mais lá atrás.
 
Mas estas pisaduras e golpes de fugida, estúpidos, sem sentido, no prazer da tortura pelo castigo sem prémio só fazem calcinar o bater do coração, couraçam-no até à rocha, indiferentemente do que se vê ou escuta ou sente, simplesmente não se agita, não se comove, não se balança, usa-se como adorno até caír aos pés e chutar-se como empecilho.

 

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