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domingo, 3 de maio de 2015

A sombra da chuva



 
- Está a chover, não muito, parecem borrifos.
- A chover?
- Molha-tolos.
Não senti nada, não pressenti nada, não me deu o cheiro de nada. Já perdi as lágrimas agora isto. Não estava à espera, não a chuva, sempre a senti mesmo quando o engano diz que o céu mantém as comportas fechadas e nem um pingo se verte e a maioria se espanta na correria desanunciada. Aonde é que eu estava que não a senti, não a cheirei, nunca foi uma coisa de levantar os olhos ao alto e de observação e apreciado, comentar vai chover ou talvez vá chover ou contida, creio que é capaz de chover, não não. Foi sempre como os perdigueiros, de nariz a dilatar as asas e a engolir o ar que fica com o sabor especial da chuva e a dizer primeiro para mim e a sorrir para mim, vem aí, vem aí chuva.
Vou a janela e confirmo. Não porque duvide de ti.
-Ainda chove?
Não sou capaz de te responder.
Duvido do meu olfacto, do meu escutar-te, do meu estar desperta, deste Maio de searas maduras que se molham invisivelmente em borrifos que não senti, projecções de sombras às duas da tarde quando não há sol e de um cão que vagueia solitário à procura do caminho de casa.

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