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Na verdade e a certa altura, não sei se as esqueci, se foram elas que se esconderam de mim para que eu as melhor apreciasse e buscando, as entendesse no seu valor, não meras fonias embrulhadas em saliva que se aprendera em criança à força do repetido, palavras guardadas numa gaveta bem à vista que é como melhor passa despercebida.
Esqueci-as, e num repente sem saber donde nem qual a razão, adoçavam-me o céu da boca, fazendo gargalhar a frase, abrindo um parêntesis, e perguntando-me donde veio isto agora? para logo acrescentar um comentário a mim, aos demais, há quanto tempo não ouvia essa palavra.
Silêncios.
E eram momentos de ouro.
Encostava-se a língua ao céu da boca à procura de imagens onde a palavra tinha sido dita naquele instante, naquela memória, naquele pedaço de tempo tão bom e entre rostos que apareciam à vez de sorrisos abertos, um despertar de um outro sentido.
O mágico das palavras era não só tê-las aprendido uma vez, mas voltar a esta torrente imparável que jorrava das bocas, renascida, valorada, oferecida agora, tão mais perfeitamente entendida no seu tamanho.
[...](in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Março 2014)
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