Quando te chamava cá de baixo e tu assomavas, cabecinha pendurada, a primeira coisa que fazias era entalar as saias entre pernas, um cuidado que por vezes não te valia de nada, o corredor dos olhos ficava na mira das tuas cuecas e o branco sorria-me à medida que tu me dizias sobe, sobe.
Eram sempre brancas, sempre. E eu gostava, não tinha fascínio de outras cores, porque debaixo daquele balão de saias que tu afrouxavas recatada, recortavam-se as sombras de ferro forjado do resguardo da varanda o que te dava um ar mourisco e apimentado, coisas que eu guardava na minha mente e recordava solitário do quarto de solteiro em noite de canto de cigarra.
Raramente galgava os degraus e subía como tu pedías. O desafio era fazer-te voltar à varanda e ver-te por cada vez mais insistente e apressada e quase pronta a saírmos, de gancho no cabelo, depois de batom rosa, finalmente para nada ou apenas para teres a certeza que ainda te esperava.
Não sei o que deu mal connosco... Ou o que me deu de hoje passar aqui com o meu neto. Mas sei que me apetecia dizer o teu nome alto e ver-te chegar, apertares as saias de balão entre pernas e eu sorrir-te por esperar por ti.
(in Portas & Janelas, Fevereiro-2014)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
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