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terça-feira, 5 de agosto de 2014

silenciando




A hora do lobo ruge até à alma. Não sei o que arrasto, se os sapatos, se o braço pendente de um dia longo e demasiado quente ou se a fome de olhos que me vejam sem armas acabou por me tragar o estômago e o animal que me devora por dentro é o avesso virado de mim mesma.
Ainda assim ele conhece-me.
Encosta-me molhado o nariz nas mãos e pés um rodopio incessante, busca o meu olhar, cheira-me como se me procurasse veias onde ainda existisse vida que pudesse salvar, raspa uma pata áspera catando restos nesse braço que eu trouxe de arrasto.
Senta.
Brilho.
Ouço um uivo por dentro de um avesso a endireitar-se nas costuras e dói-me a luz que sinto falar-me tão pacificamente na risca de pelo que medeia as orelhas altivas.
Beijo. Mão. Calor e tacto. Macio.
Guarda-me.

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