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domingo, 20 de outubro de 2013

43 segundos




Um tule finissimo desliza-lhe pelos dedos dos pés serpenteando como água de um ribeiro sem tino, vem puxado por mão invisivel de um sonho que vem tentando afastar à custa de se agitar molemente entre fronhas de algodão que a sufocam e cabelos longos que não sendo seus há muito aspira que lhe cresçam até meio das costas por alturas onde a curva do dorso se ergue como um monte que se adoça para arquear a roupa adivinhando nos olhos fechados a forma feminina, mas hoje o incómodo da noite escorrendo paredes onde dedos raspam papéis de miosótis que lhe irritam a insistência repetitiva do motivo em tudo assemelhando-se a labirintos de onde não consegue achar saída e até o peso das cobertas amachucando seios e receios de sufoco pela asfixia de monstros que espezinham a qualquer instante que não há meio de chegar, deixam-na exausta, confusa e desnorteada, presa em tules de mata-moscas melados e agarradiços que a levam a gritar por socorro.
 
Geme. Uma coisa fraca e distorcida.
 
Aconchega-se. Puxa as pernas a si, esconde as mãos sob o queixo e leva o polegar à boca. Suspira. Adormece.
 
 

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