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terça-feira, 7 de agosto de 2012



Até ao céu dois elevadores, em caso de perigo usar as escadas de serviço, se tem boas pernas subir os degraus, em qualquer caso é sempre para cima, não há que enganar.
Vai mais além, não dá para acreditar que o cimento se estanque aos pés, ainda noutro dia perseguiu à vista uma ave - ía jurar que era um flamingo rosa - e quase o alcançou, o diacho do bicho tinha muito treino e só por isso não se pôs a seu lado, mas por muito tempo manteve-se na sua cauda até o perder na massa fofa de nuvens brancas que se aglomeraram e lhe toldaram a vista, quase-quase-quase, no instante em que lhe ganhava... Regressou ao terraço, um pouco contrariado, um pouco derrotado, bastante cansado ao evitar estatelar-se ao fundo de tantos andares.
É dificil por vezes evadir corpo e alma, quando os dois não se acompanham, quando os olhos olham uma natureza bela e o corpo quer saltar para fazer parte, sentir na carne esse gozo... e duvidar que a alma venha a sentir se o corpo não aguentar.
Será, disse sonoramente a si.
Acabou de fumar o cigarro e lançou a beata entre dedos como um projectil, seguiu-lhe a trajectória, imaginou-a como uma ave a libertar-se.
Mais alto e mais ao longe, um risco no céu sublinhava a chegada de um avião ao aeroporto da cidade.
Fechou os olhos e por segundos tudo desapareceu.


Fotografia oferecida por Eduardo J.Silva

1 comentário:

o Reverso disse...

há segundos que deviam durar toda a eternidade...