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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pânico




Fechou a porta atrás de si e a primeira sensação que teve foi o vento, ou o picante do ar a entrar-lhe nas narinas, ou talvez o aspecto do céu um pouco acinzentado-azulado-anilado, não sabía distinguir que cor sería. Aliás, não sabía explicar o que estava a sentir, era tudo novo, uma coisa qualquer que o entontecía e que lhe era estranha para a qual não achava palavras na prontidão dos impulsos do seu corpo.
Vertigens. Sim, vertigens sem duvida, embora a altura não fosse maior que a das suas pernas e não se recordava que tivesse crescido mais uns centímetros desde que tivesse chegado ao terraço da empresa onde trabalhava. Porque tinha ido para ali e como, era também um mistério, recordava-se de estar sentado a trabalhar e sentir-se sufocar frente ao computador e de ter observado os demais na mesma situação que ele e todos parecerem estar bem, a respirarem bem. Mas ele sem ar, o peito vazio, amolgado, achatado até as costelas se colarem à pele das costas e toda a sala parecer esborrachá-lo sobre o toráx.
A seguir, deu consigo no topo do edificio.
E agora?
Como saír daqui?
Como voltar à sala, à segurança da sua cadeira e à certeza da sua mesa e do seu computador, capaz de caír, ser levado pelos ares ou até com esta cor estranha de céu vir um tufão, um tornado e engoli-lo sem salvação, os outros nunca mais o hão-de achar, recuperar o corpo ao menos para que se faça o funeral decente, uma tragédia...
Sentou-se no chão.
Puxou os joelhos ao peito e rodeou-os pelos braços, pendendo a cabeça sobre este arco.
Sentiu-se miserável e pensou que se tivesse o telemóvel consigo estaría salvo.
Soluçou.
Um pássaro sobrevoou e deu largas à sua natureza sobre o fato de marca.

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