Enquanto houve luz que lhe agradasse registou no caderno de desenho tudo o que era esboço que lhe merecesse a pena de olhar.
Voltou no segundo e terceiro dias, ao quarto choveu e ficou de dentro com as mãos nos bolsos a bafejar os vidros e a desenhar-lhes corações com setas.
No quinto dia, havía sol brilhante e um cheiro maravilhoso de verde. Passeou com o caderno debaixo de braço, enlameou as botas que prevenidamente calçara, atirou seixos ao ar, transpirou e nem um risco fez para amostra. Regressou a casa feliz do seu trabalho.
No sexto dia, pôs-se de costas para o cenário que havía desenhado de início e completou-o.
Voltou para casa, fechou-se à chave no atelier, não respondeu ao chamamento para as refeições e no dia seguinte não deram com ele.
No final do dia, trouxe a tela e apresentou uma mancha azul que se desmaiava escorrida para dentro de um verde que era sugado por um castanho.
Silêncio. Sorriso dele. Silêncio. Sorriso ainda maior dele. Pergunta:
- E as árvores? Onde estão as árvores?
- Podei-as. Estorvavam-me a arte.
(in Telas, 15.06.2012, ao Trilitistar)
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