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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Das horas que passam e eu sem saber delas

Estou presa. Não posso fugir, não posso dourar os cadeados, não estico o tamanho desta jaula se lhe contar repetidamente os passos ou se olhar para o tecto a fingir que o que vejo é céu aberto. Fresco. Puro.
Aos poucos fui fazendo crescer estes muros alteando-os desencontrados para obter a firmeza que não me permita escapar, furei uma janela, um quadrado perfeito como uma moldura onde encaixo o rosto e vejo quadros consoante o que passa a direito. Tendências e fases imagino-as. A bel-prazer. O humor dita-as.
Inconscientemente deixei uma frincha, uma réstia de mão espalmada por onde entram as visitas e por onde passo recados, pequenos pedidos de nada, umas pingas de chuva ou o cheiro do pêlo suado de cavalo, a maresia das ostras abertas, o eco do meu nome.
Às vezes revolto-me e tento partir este tubo que me serve de saia e me prende as pernas, amaldiçoo a droga injectada na veia que me secou de sangues substituíndo o liquido que conhecía por um hospedeiro que conversa comigo junto ao ouvido, baixinho, embalo, desfaleço, deixo-me ir, leva-me, quero ir. De outras não ofereço resistência, até enfeito as paredes circulares de grafittis infantis, um malmequer, um enforcado, palavras soltas que acabo por unir com e ou de ou deu.



... Engraçado... Quando faço isso as paredes levantadas desaparecem. Fico com pena de não estar presa.

8 comentários:

tchi disse...

Inconfundível o teu escrever.

"Prendo-me" aqui.

Beijinhos.

Menina Marota disse...

Por motivos se calhar bem diferentes sinto as tuas palavras como se fossem minhas...

Um abraço

marisa disse...

Querida Gasolina, voltaste e em grande. Que belo texto sobre a liberdade/"prisão". Fizeste-me lembrar algo de Massimo Bontempelli que anotei um dia e que passo a citar: "A verdadeira liberdade é um acto puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere e a estar sozinhos até no meio da multidão". Fiquei com a sensação de que talvez já tivesse citado o mesmo num outro comentário. Se sim, desculpa, mas pareceu-me apropriado para o teu belíssimo texto.
Um beijo
marisa

Gasolina disse...

Tchi,

Oxalá nunca deixe de haver razão para que volte costas a esta prisão tão dourada. Porém tão egoísta.

E que tu aqui estejas para sentires as folhas.

Um Beijo

Gasolina disse...

Menina Marota,

É bem provável, não sei.

Mas se as sente como tuas, serão sentires teus e assim, alguma ponte há-de haver entre nós.

Gasolina disse...

Marisa,

Marisa, Marisa.
Marisa com A tão grande.

Voltei a sentir precisão da Árvore, de aqui apanhar folhas, ver o crescer dos frutos.

E não. Nunca me havías feito referência a essa máxima. Tantas vezes a sinto, tantas vezes se desespera.

Abraço-te muito Pézinhos de Lã.
Com beijo.

Laura Ferreira disse...

Sim, inconfundível. Belíssimo, querida Gasolina.
Ainda bem que voltaste.

Gasolina disse...

Laura,

Estou feliz de ter voltado a sentir esta vontade.

E de encontrar as "minhas" fiéis folhas verdes, sempre tão verdes.

Tu, Folha Linda.

Beijo em ti.