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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Memória sabática

Cinco da tarde, quase lá. Escuro, não deixa de ser escuro lá porque os candeeiros se armam em altivos e cospem uma luz amarelada sobre os mortais, cá em baixo, à espera, friorentos, sebentas e cadernos entalados no sovaco ou espalmando seios tesos de meninas que usam saias de xadrez com salto alto. À espera, ainda com as cinco a enforcar-se no ponteiro e o badalo da Igreja de NªSrª de Fátima a fazer disputa com o Berna, quente e escuro, bom para os olhos e para as mãos que apalpam veredas nos seios tesos e nas imagens do La Luna.

À espera dele.

Ele vem e se não vier por si há-de vir de braço dado, sempre a sorrir, no meio dos dois que já se fartaram de esperar e o foram buscar.

O resto que se fartou de esperar recolhe-se à sala que antes fora estábulo do quartel e que deste mesmo ao lado, resistem os que vieram dar o nome e os que de farda verde engomada fazem pedidos obscenos pelas grades que separa as duas forças: a militar e a do saber.

Já se foram das cinco, já se abalaram os dois a trazê-lo, o que sobrar declama-se. Alencar talvez ou Mia.

Do Paco traz o gosto da cerveja gelada e da conversa que trocou como moeda, não interessa a quem, o que importa é que falou e ouviu falado.

Sentam-no mal na cadeira de professor, é um homem grande, enorme, maior que o corpo, está bebedo de poética.

Comece-se então a aula de hoje.

Das seis e metade fazem-se cinco em ponto.

6 comentários:

Carla disse...

assim é quando a poesia jorra de quem a tem na alma
beijos

Vicktor Reis disse...

Querida Gasolina

Quantas vezes me perdi no tempo a beber uma gelada cerveja no Paco, com o "velho" Paco ainda entre nós em dois dedos de conversa.

Depois num prédio alto e frio subir as escadas para umas conversas acaloradas com mestres do saber, Henrique de Barros e Castro Caldas, com o tema da Reforma Agrária, dez anos antes dela ter começado, no alvorecer de Abril.

Que recordações me trouxeste minha querida amiga... só desejava muito saber em que veredas da vida eu contigo já me cruzei...

Mil beijinhos.

Gasolina disse...

Carla,

Que bonito.

Por mim e pelo homem grande que foi o meu Prof. de Literatura Africana e Brasileira. Um poeta. Cheio.

Um beijo

Gasolina disse...

Victor,

O Paco traz-me boas memórias.
O meu querido Prof de Literaturas Africana e Brasileira tinha lá pouso certo. Saía da Gulbenkian e matava o tempo nas "geladas" até pegar na Nova e nos seus "poetas".

Mas tantas vezes o fomos lá buscar.
Incapaz de se lembrar de coisas fúteis como horas, tento na cerveja, acabar uma conversa.

As nossas veredas... Talvez o olhar, o mesmo olhar.Será?

Beijo grande Querido Victor

CNS disse...

Nem sabes como gosto dos habeis jogos que fazes com as palavras.
É bom ler-te. Muito. Mesmo.

um beijo

Gasolina disse...

CNS,

Obrigado.
Pelo tanto com que me seduzem as tuas palavras.

Um beijo